(Já por terras de Lisboa para preparar segunda feira
próxima ao princípio da noite e assistir ao primeiro concerto de Maria João
Pires na sua residência na Gulbenkian, uma dádiva aos sentidos, aproveito para
concluir o tema que me levou ontem a Penafiel em torno da discussão do Plano
Intermunicipal de Adaptação às Alterações Climáticas para o Tâmega e Sousa. Curiosamente, ou antes expressando as múltiplas
convergências sobre o tema, o Economist
desta semana dedica a sua preciosa atenção ao tema do clima)
O post anterior terminava com o
reconhecimento, aliás também presente no estudo ontem discutido em Penafiel, de
que a agricultura concentrava parte da atenção dos impactos produtivos da
adaptação ou mitigação das AC. Isso deve-se em parte à intensidade dos
impactos. Nesta matéria, podemos falar de dimensões de conhecimento mais
corrente como o são as consequências em termos de investimento em
infraestruturas, de irrigação principalmente, mas também de procura de soluções
de maior eficiência na utilização dos regadios. O mesmo se diga do que
poderíamos designar de sensorização da agricultura, na linha de uma
sofisticação de produção e da sua adaptação às incidências do clima, que a
agricultura portuguesa começa a cavalgar conduzida por produtores mais robustos
e capacitados. Veja-se, por exemplo, o modo como alguns players da economia do vinho do Douro anteciparam todo esse
movimento, como os SYMINGTON, por exemplo, o fizeram incentivando o concurso da
academia (neste caso da UTAD) e promovendo também o envolvimento da ADVID.
As dimensões de conhecimento menos
generalizado respeitam como o sugeri ontem aos impactos em termos de
transformação mais radical dos modelos produtivos agrícolas e da paleta de
produtos associados a um certo território. As AC podem gerar deslocalizações relevantes
de certas culturas, induzidas pela relação entre características de culturas,
propriedades de solo e intensidade da exigência de água. Estas mudanças podem
suscitar a determinadas regiões a necessidade de decisões complexas sobre que
tipo de culturas e modo de exploração devem ser apoiados tendo em conta a sua
sustentação a médio e longo prazo.
É ainda fundamental seguir integradamente esses
impactos sobre os modelos produtivos e o que vai acontecendo em termos de grandes
tendências de padrões de consumo. Veja-se, por exemplo, o movimento em que me
incluo de apreço crescente pelos vinhos brancos com maior acidez e mineralidade.
Aprofundar essa onda de preferência não tem hoje, em contexto de AC, o mesmo significado
do passado. Esse estímulo à produção de brancos implica deslocalizações de vinha,
designadamente em altitude, mas pode implicar alterações mais profundas com territórios
sem qualquer experiência ou tradição de produção de vinho branco a ter a sua
oportunidade de presença na oferta.
O estudo patrocinado pela CIM do TeS
aprofunda conhecimento e sistematiza bem o que são os veículos através dos
quais as AC produzem vulnerabilidades diferenciadas sobre territórios.
O conjunto de recomendações que os
investigadores sugerem não podem ser consideradas propostas de política
propriamente ditas. Mas são um instrumento precioso para uma nova geração de
políticas públicas mais baseadas na evidência científica.
Na sessão em que participei foi visível a
natureza diferenciada da mensagem vinda dos investigadores e a que foi presente
na reunião vinda das autoridades com responsabilidades de intervenção e de conceção
de política nesta matéria, designadamente o ICNF (região Norte) e da APA (Agência
Portuguesa do Ambiente). Dos primeiros vieram alertas fundamentados, evidência fundamentada
e um grande contributo para se perceber a dimensão territorializada de um problema
global. Dos segundos veio um emaranhado de dispositivos, instrumentos
reguladores, planos, intervenções. Na criação de um elo coerente e fluido entre
estes dois mundos está a raiz da solução. Num contexto nacional e regional, em
que os recursos de coordenação disponíveis são cada vez mais escassos para
tanto instrumento de política, a governança e a coordenação destes processos são
para mim o fator crítico crucial. E nem sempre as propostas de modelos de
governança têm isso em devida conta.
Nota final: Já depois de ter preparado a
minha intervenção em Penafiel, a leitura do Economist desta semana mostra que
estamos perante um desafio de âmbito mundial o que torna a governança destas
questões ainda mais complexa. O número especial da revista britânica rejeita o catastrofismo
e ajuda-nos a compreender que os danos de uma não mitigação do problema serão
devastadores mas com destinatários bem identificados. Uma leitura essencial vinda
de uma perspetiva liberal que tem também a sua palavra na matéria.
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