terça-feira, 3 de setembro de 2019

O SOL


O semanário “Sol” surgiu na sociedade portuguesa como um projeto de desafio total ao consagrado “Expresso”, desafio esse à época assumido de forma muito convencida mas não muito convincente pelo seu principal promotor José António Saraiva (JAS) e respetivos acólitos (José António Lima à cabeça). Tudo lhe aconteceu ou, talvez mais propriamente, tudo fez de errado para que tudo lhe acontecesse, quer jornalisticamente quer financeiramente, até chegar aos dias de hoje a perdurar incompreensivelmente nas bancas sem que se saiba para consumo de quem e por conta de quem. Um dia se escreverá, para os anais do jornalismo português, um case study com a história detalhada de como JAS trocou a razoável reputação que granjeara no setor por uma cada vez mais lamentável presença semanal no cabeçalho de um jornal desgovernado e em rápida evolução para se transformar num autêntico pasquim sem nome. A não esquecer, ainda, os seus sucessivos financiamentos, especialmente aquele que parece ser maioritariamente angolano e no mínimo duvidoso porque decerto associado a traficâncias protagonizadas pelos pouco confiáveis amigos a quem Ricardo Salgado entregou o comando do BES de lá.

Vem todo este introito a propósito do número do “Sol” desta semana, bem ilustrativo de como o jornal caminha para o fundo sob a dominação de um populismo sem rumo. Repare-se na conjugação destes cinco dados: (i) manchete principal com José Castelo Branco (!) a elogiar o “primo” António Costa; (ii) segundo grande título a revelar uma obviamente falsa “solidariedade” (!) manifestada pelo primeiro-ministro português ao inenarrável presidente brasileiro; (iii) terceiro grande título a trazer à tona uma Filipa Roseta que será cabeça-de-lista por Lisboa (!) – ela que saiu ao pai no cinzentismo e na escolha partidária – mas se limita a fazer sobressair uma denúncia do continuado “socratismo” do atual PS; (iv) quarto grande título a pretender evidenciar um importante (!) “encontro secreto” ocorrido em Fátima com a presença de alguma extrema-direita europeia e internacional; (v) por fim, e como se já não fosse pouco para arrasar a indigente gestão editorial do semanário em causa, ainda ficou espaço para uma mãozinha de apoio a Pardal e ao sindicato dos motoristas de matérias perigosas (desafiam Governo?) e para um momento publicitário conjunto a um ator caído em desgraça por escândalo sexual (Kevin Spacey) e ao espaço onde foi fotografado em Lisboa. Será que, mais não seja em nome do passado, a atual direção e o seu “conselheiro editorial” não conseguem disfarçar melhor a sua rendição? Ou será que perderam a vergonha sobrante? Ou será, ainda, que já estão por tudo, a ponto de ainda lograrem um dia destes descer abaixo de tão miserável patamar?

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