Mais de quarenta e três anos separam os dois referendos cujos resultados conjugados agora explicam o essencial da autêntica desordem e desorientação que reina no Reino Unido: refiro-me ao referendo pela soberania da Irlanda do Norte (Border Poll), realizado em 8 de março de 1973 para definir se deveria formar-se uma Irlanda unida ou se a Irlanda do Norte deveria permanecer parte do Reino Unido (como de facto aconteceu após uma votação de 98,9% dos apenas 58,7% que se apresentaram nas urnas, muito por via de um boicote dos nacionalistas), e ao referendo em torno da saída britânica da União Europeia, realizado em 23 de junho de 2016 e ganho pelo Leave com 51,8% dos 72,1% que compareceram. Tanto já aconteceu nestes três anos, sempre aqui acompanhados de perto pela nossa antena, e a semana finda foi das mais interessantes e das mais positivas ao criar dificuldades sérias à estratégia do primeiro-ministro Boris Johnson de sair a qualquer preço, leia-se sem acordo se necessário – é que valeu tudo, desde a concretização de uma revolta de 21 tories a três sucessivas e humilhantes derrotas no Parlamento e, até, ao desligamento do irmão em relação ao governo (privilegiando o “interesse nacional” face à “lealdade familiar”), sendo certo que BoJo promete lutar até à última (I’d rather be dead in a ditch than delay Brexit) e que Corbyn continua a recusar eleições (talvez também porque manifestamente as mesmas não lhe iriam correr pelo melhor). A confusão é, assim, total e as capas dos vários jornais – entre os mais sérios e os pasquins mais lidos – mostram-no de forma evidente. A semana que agora começa vai continuar a conhecer uma continuidade do circo instalado (até quando?), com Boris a encontrar-se com o primeiro-ministro da República da Irlanda e não se esperando grandes mudanças no sentido do voto parlamentar de mais logo. Ou seja: adiamento do deadline para 31 de janeiro de 2020, eleições antecipadas e o cutelo de um no deal sempre à espreita, eis as grandes peças de um puzzle que ainda ninguém sabe resolver.
(Ben Jennings, http://www.guardian.co.uk)
(Matt Pritchett, http://www.telegraph.co.uk)
(Chris Riddell, http://www.guardian.co.uk)
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