terça-feira, 3 de setembro de 2019

A POLÍTICA ESPANHOLA NÃO É MODELO PARA NINGUÉM

(Voz de Galicia)


(Era previsível. A política espanhola lá teria que entrar no espectro eleitoral português. Mas não por razões prazenteiras para os nossos vizinhos. Como exemplo do que o PS receia que possa vir a acontecer, ainda e sempre mordendo no Bloco.)

A jogada burlesca em que o governo espanhol PSOE se colocou a ele próprio, anunciando que não faria férias mas sem que se vislumbrasse resultados palpáveis de governação, por mais precária que se apresentasse, integra o processo de deterioração progressiva da política espanhola que o vazio político criado está a gerar.

Já não há pachorra, por mais paciência revolucionária que possamos inventar, para acompanhar as peripécias do namoro de arrufos entre o PSOE e o PODEMOS, girando em torno do que este último estará em última instância disposto a aceitar para que Sanchéz seja investido e finalmente apostar num programa de governo que inspire alguma estabilidade.

Quanto mais o mais puro taticismo de Sánchéz se afirma cristalino mais se enraíza a ideia de que o atual primeiro-Ministro espanhol em funções é um líder para as incidências do curto prazo, para sobrevivência mediática, tudo menos para um posicionamento de médio e longo prazo capaz de devolver aos espanhóis algum sentido de futuro. O que, paradoxo de todos os paradoxos, acontece quando as sondagens sugerem que uma nova eleição ainda em 2019 daria a maioria absoluta ao conjunto dos dois partidos, PSOE e PODEMOS.

E para mal dos pecados e desatinos dos espanhóis que desejam alguma estabilidade política, apesar da questão territorial não resolvida, à direita não se passa nada de melhor ou de mais cativante. A abordagem ESPANHA SUMA inventada pelo PP para assegurar alguma orientação liderante da direita espanhola deu de trombas com a evidência de mais um caso fraudulento no financiamento do PP, envolvendo agora judicialmente personagens de topo do PP madrileno, ainda por cima logo depois da direita ter conservado o poder no ayuntamiento e na comunidade de Madrid. Mas que pontaria e sentido de oportunidade no timing político! Desconhece-se qual o impacto de mais esta borrada do PP na recuperação que Pablo Casado estava a protagonizar. Ávido de argumentos para proclamar que está vivo e não moribundo, o CIUDADANOS vê em mais um caso de corrupção ou pelo menos de financiamento fraudulento do PP a oportunidade de momento para afirmar alguma individualidade no contexto da direita ao qual estupidamente se entregou, hipotecando o seu centrismo.

Com toda esta trapalhada, o governo em funções tem à perna o arrefecimento da economia materializado sobretudo na queda abrupta da venda de automóveis, a publicação da sentença sobre os independentistas catalães já aí ao virar da esquina e a embrulhada em que o financiamento das autonomias se encontra pela inação governativa.

Era previsível que todo este aparato chegasse ao ambiente eleitoral português. Costa sabe bem que a situação política espanhola não poderá aspirar a um simulacro de geringonça pois não tem um PCP para a protagonizar. Ressalvada a injustiça de comparações entre o Bloco de Esquerda e o PODEMOS, pois Catarina Martins, as manas Mortáguas e Marisa são meninas de coro quando comparadas com a instável inorganicidade do PODEMOS e da sua fragilizada liderança, Costa aproveita para morder mais uma vez o Bloco de Esquerda. A política portuguesa não suportaria uma negociação tão esfarrapada como aquela a que o taticismo de Sanchéz e de Iglésias está a conduzir a Espanha. O argumento faz parte de uma certa dramatização em que Costa se movimenta bem e que o tempo eleitoral estimula. Convém não abusar. O eleitorado português não tem validado dramatizações dessa natureza. E alguma cautela recomenda não perder de vista o que pode fazer neste tempo mais próximo um PSD acossado. Para um Rio fragilizado e encostado às cordas qualquer voto imprevisto será recebido como náufrago a pedir ajuda.

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