(Voz de Galicia)
(Era previsível. A política espanhola lá teria que entrar
no espectro eleitoral português. Mas não por razões prazenteiras para os nossos vizinhos. Como
exemplo do que o PS receia que possa vir a acontecer, ainda e sempre mordendo no
Bloco.)
A jogada burlesca em que o governo espanhol PSOE
se colocou a ele próprio, anunciando que não faria férias mas sem que se
vislumbrasse resultados palpáveis de governação, por mais precária que se apresentasse,
integra o processo de deterioração progressiva da política espanhola que o
vazio político criado está a gerar.
Já não há pachorra, por mais paciência revolucionária
que possamos inventar, para acompanhar as peripécias do namoro de arrufos entre
o PSOE e o PODEMOS, girando em torno do que este último estará em última instância
disposto a aceitar para que Sanchéz seja investido e finalmente apostar num
programa de governo que inspire alguma estabilidade.
Quanto mais o mais puro taticismo de Sánchéz
se afirma cristalino mais se enraíza a ideia de que o atual primeiro-Ministro
espanhol em funções é um líder para as incidências do curto prazo, para sobrevivência
mediática, tudo menos para um posicionamento de médio e longo prazo capaz de devolver
aos espanhóis algum sentido de futuro. O que, paradoxo de todos os paradoxos, acontece
quando as sondagens sugerem que uma nova eleição ainda em 2019 daria a maioria
absoluta ao conjunto dos dois partidos, PSOE e PODEMOS.
E para mal dos pecados e desatinos dos espanhóis
que desejam alguma estabilidade política, apesar da questão territorial não
resolvida, à direita não se passa nada de melhor ou de mais cativante. A abordagem
ESPANHA SUMA inventada pelo PP para assegurar alguma orientação liderante da
direita espanhola deu de trombas com a evidência de mais um caso fraudulento no
financiamento do PP, envolvendo agora judicialmente personagens de topo do PP
madrileno, ainda por cima logo depois da direita ter conservado o poder no ayuntamiento
e na comunidade de Madrid. Mas que pontaria e sentido de oportunidade no timing
político! Desconhece-se qual o impacto de mais esta borrada do PP na recuperação
que Pablo Casado estava a protagonizar. Ávido de argumentos para proclamar que
está vivo e não moribundo, o CIUDADANOS vê em mais um caso de corrupção ou pelo
menos de financiamento fraudulento do PP a oportunidade de momento para afirmar
alguma individualidade no contexto da direita ao qual estupidamente se entregou,
hipotecando o seu centrismo.
Com toda esta trapalhada, o governo em funções
tem à perna o arrefecimento da economia materializado sobretudo na queda abrupta
da venda de automóveis, a publicação da sentença sobre os independentistas catalães
já aí ao virar da esquina e a embrulhada em que o financiamento das autonomias se
encontra pela inação governativa.
Era previsível que todo este aparato chegasse
ao ambiente eleitoral português. Costa sabe bem que a situação política
espanhola não poderá aspirar a um simulacro de geringonça pois não tem um PCP
para a protagonizar. Ressalvada a injustiça de comparações entre o Bloco de
Esquerda e o PODEMOS, pois Catarina Martins, as manas Mortáguas e Marisa são
meninas de coro quando comparadas com a instável inorganicidade do PODEMOS e da
sua fragilizada liderança, Costa aproveita para morder mais uma vez o Bloco de
Esquerda. A política portuguesa não suportaria uma negociação tão esfarrapada
como aquela a que o taticismo de Sanchéz e de Iglésias está a conduzir a
Espanha. O argumento faz parte de uma certa dramatização em que Costa se
movimenta bem e que o tempo eleitoral estimula. Convém não abusar. O eleitorado
português não tem validado dramatizações dessa natureza. E alguma cautela recomenda
não perder de vista o que pode fazer neste tempo mais próximo um PSD acossado.
Para um Rio fragilizado e encostado às cordas qualquer voto imprevisto será
recebido como náufrago a pedir ajuda.
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