domingo, 1 de setembro de 2019

NOSTALGIA DE SETEMBRO



(Já há alguns anos que não assistia ao ritual do fim das férias de agosto pelas bandas de Caminha. Paira alguma nostalgia pelo ar com os últimos abraços, saudações e votos de que o ritual possa repetir-se pela vontade dos deuses para os próximos anos.)

A sazonalidade quando é forte tem destas coisas. A segunda quinzena de agosto transforma a vila, a praia de Moledo e os arredores próximos onde me alojo, em Seixas, com Santa Tecla à vista, este ano em muitos dias coberto por um nevoeiro irredutível que parecia querer esconder o topo do monte, com a virtude pelo menos de encobrir o lado esventrado. Quando essa segunda quinzena se fina o contraste é bem evidente. Este ano a nostalgia pareceu mais intensa pois a quinzena foi bem irregular e anuncia-se uma semana inicial de setembro com alguma canícula.

Escrevia há dias Xosé Luís Barreiro Rivas na Voz de Galicia que as férias do norte do sul, caso da região transfronteiriça com a Galiza, laboram por estes tempos num erro crasso. Dizia o cronista que temos de considerar três verãos: o continental que produz no centro da Europa temperaturas tórridas e incómodas, o mediterrânico que tem em agosto o seu centro mais prazenteiro e finalmente o atlântico, o nosso, que deveria apontar para julho e não para agosto. Creio que o cientista político Barreiro Rivas não tem competência específica na área climática, mas acho que ele tem muita razão. Embestando num verão mediterrânico que não é destas paragens e sacrificando o nosso tempo de lazer ao fatídico mês de agosto aceitam-se apostas e outros concursos para saber se acertamos em algum dia especial. Exercita-se a imaginação, pois nem a três quilómetros da praia de Moledo e Camarido é possível prever o estado da arte do que nos espera, se nevoeiro, se aquele vento que tira do sério qualquer um, sobretudo para aqueles que se resignam a dar cabo das costas ou de outros membros empenados protegidos por um arreliador para-vento.

Pois apesar destes contratempos e dos inúmeros erros de perceção do tempo que a praia nos reserva, a segunda quinzena de agosto acaba e a nostalgia regressa. Faz parte das férias. Ninguém, no fundo, quer ficar sozinho quando os amigos ou simples conhecidos rumam ao trabalho que é preciso pagar as contas e nem toda a gente goza de reformas chorudas ou prazenteiras.

De ontem para hoje foi assim e certamente que assim continuará a ser.

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