(Já há alguns anos que não assistia ao ritual do fim das
férias de agosto pelas bandas de Caminha. Paira alguma nostalgia pelo ar com os últimos
abraços, saudações e votos de que o ritual possa repetir-se pela vontade dos
deuses para os próximos anos.)
A sazonalidade quando é forte tem destas
coisas. A segunda quinzena de agosto transforma a vila, a praia de Moledo e os
arredores próximos onde me alojo, em Seixas, com Santa Tecla à vista, este ano em
muitos dias coberto por um nevoeiro irredutível que parecia querer esconder o
topo do monte, com a virtude pelo menos de encobrir o lado esventrado. Quando
essa segunda quinzena se fina o contraste é bem evidente. Este ano a nostalgia
pareceu mais intensa pois a quinzena foi bem irregular e anuncia-se uma semana inicial
de setembro com alguma canícula.
Escrevia há dias Xosé Luís Barreiro Rivas na
Voz de Galicia que as férias do norte do sul, caso da região transfronteiriça
com a Galiza, laboram por estes tempos num erro crasso. Dizia o cronista que temos
de considerar três verãos: o continental que produz no centro da Europa temperaturas
tórridas e incómodas, o mediterrânico que tem em agosto o seu centro mais
prazenteiro e finalmente o atlântico, o nosso, que deveria apontar para julho e
não para agosto. Creio que o cientista político Barreiro Rivas não tem competência
específica na área climática, mas acho que ele tem muita razão. Embestando num
verão mediterrânico que não é destas paragens e sacrificando o nosso tempo de
lazer ao fatídico mês de agosto aceitam-se apostas e outros concursos para saber
se acertamos em algum dia especial. Exercita-se a imaginação, pois nem a três
quilómetros da praia de Moledo e Camarido é possível prever o estado da arte do
que nos espera, se nevoeiro, se aquele vento que tira do sério qualquer um,
sobretudo para aqueles que se resignam a dar cabo das costas ou de outros
membros empenados protegidos por um arreliador para-vento.
Pois apesar destes contratempos e dos inúmeros
erros de perceção do tempo que a praia nos reserva, a segunda quinzena de
agosto acaba e a nostalgia regressa. Faz parte das férias. Ninguém, no fundo,
quer ficar sozinho quando os amigos ou simples conhecidos rumam ao trabalho que
é preciso pagar as contas e nem toda a gente goza de reformas chorudas ou prazenteiras.
De ontem para hoje foi assim e certamente que
assim continuará a ser.
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