(Peter Schrank, https://www.economist.com)
Há dias recolhi no “Financial Times” uma interessante evidência do impacto das difíceis condições de funcionamento com que se depara, interna e externamente, a economia chinesa. O texto intitulava-se “The story of China’s great corporate sell-off” e tinha por mote principal uma pergunta (“Porque é que as empresas chinesas compraram mais de 200 mil milhões de ativos no exterior em 2016 para passarem os anos seguintes a vender muitos deles?”) ligada à seguinte afirmação: “os grupos chineses são vendedores líquidos pela primeira vez, tendo alienado 40 mil milhões de dólares em ativos globais e comprado apenas 35 mil milhões”.
Ora, a resposta reside no ciclo económico e de crédito do país – enquanto em 2015, perante uma forte desaceleração da economia, se assistiu a um afrouxamento da política monetária e a uma desvalorização da moeda nacional, assim se estimulando que os investidores privados retirassem dinheiro do país utilizando uma dívida barata para comprar ativos denominados em dólares (muitos deles estrategicamente inconsequentes), desde 2017, num quadro crescentemente agravado pelas tensões comerciais com os EUA, foi-se observando o fim desse crédito fácil e o início de uma política de regulação bancária contrária às saídas de capitais e limitadora da diversidade antes existente de fontes de liquidez, tudo levando a que progressivamente as empresas tivessem de fazer o roll over dos seus empréstimos e de olhar com outro cuidado para o seu working capital, assim gerando uma situação em que os negócios no exterior foram drasticamente desacelerando e a venda de ativos disparando.
Deste modo, resultou frequentemente posta a nu a inexperiência daqueles compradores iniciais perante operadores de mercado mais batidos e agressivos. Linha em que, como tão eloquentemente nos mostrou o Professor Peter Williamson numa conferência que ministrou na Católica do Porto, ficou patente uma das contradições do capitalismo de Estado chinês: a diversidade de interventores e a sua diferente conexão com a estratégia económica nacional. Recordo também, a este propósito, um texto da “The Economist” em que se explicava que “os agentes locais não ouvem”, que “as montanhas são altas e o imperador está longe” e que até o todo-poderoso Xi Jinping podia ser iludido e classificado como “chairman de tudo, mestre de nada”. Uma matéria a explorar aqui em maior profundidade, um dia destes.
Para concluir, e voltando ao texto em causa, sublinhe-se que o final do mesmo é muito claro mas não menos gerador de dúvidas e receios: stay tuned as more of China’s global portfolio comes back on to the market...
Sem comentários:
Enviar um comentário