sábado, 28 de setembro de 2019

JACQUES CHIRAC


Nunca fui um apreciador por aí além de Jacques Chirac. Nas minhas incursões francesas, vivenciais ou meramente circunstanciais mas sempre interessadas, raras foram em vezes em que estive do lado dele – afinal, ele fundou o partido gaulista (RPR), foi um polémico maire de Paris durante dezoito anos, coabitou conflitualmente com Mitterrand, candidatou-se à presidência contra este, venceu Jospin nas presidenciais e depois coabitou mal com ele enquanto primeiro-ministro, promoveu um referendo europeu e flirtou sucessivamente com Sarkozy até ser traído – com exceção dos momentos em que desejei que vencesse Le Pen na segunda volta de 2002 e em que valorizei que assumisse aquela sua histórica posição contra a invasão do Iraque. Não obstante, e perante um mundo tão desregrado como o de hoje, Chirac aparece presentemente aos olhos dos da minha geração como alguém que, afinal, até tinha a sua ética política e que esta, apesar de muito própria, acabava por possuir alguns ingredientes dotados de certa solidez. De entre as muitas leituras e obituários que a sua morte nos trouxe (vejam-se abaixo as capas francesas e a do “Financial Times”, a única que o carateriza pelo nickname “buldózer”), tendo a eleger a complementaridade daquele tellement français com aquele un destin, une époque e com aqueloutro une certaine idée de la droite, mas o título do editorial do “Le Monde” é praticamente imbatível enquanto síntese das sínteses: un miroir des contradictions françaises, pois. O que não deixa de constituir um belo elogio.


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