quarta-feira, 11 de setembro de 2019

ROSTOS DO TEMPO



(Sim, já conhecem o meu fascínio algo mórbido  pela erosão que o tempo provoca nos rostos, por vezes sem quebrar a sua densidade, enraizada nas nossas memórias. Sou tributário do que os fotógrafos de eleição nos proporcionam. Hoje é tempo de trazer o rosto de Sónia Braga.)

Hoje, após o desaparecimento de um dos fotógrafos incontornáveis do nosso tempo, o americano Robert Frank (ver a excelente crónica de Sérgio B. Gomes no IPSILON do Público, link aqui), chega-me paradoxalmente uma daquelas fotografias que me faz regressar à série dos rostos do tempo. Esse espaço regista como se recordam os leitores mais fiéis um fenómeno que me fascina desde há longo tempo. O tempo projeta-se nos rostos de personagens que conviveram com os nossos devaneios culturais, de pura fruição, imaginando cenários de proximidade que nunca existiu. Mas projeta-se de modo desigual. E só alguns conseguem conservar a densidade e espessura que habitam para sempre a nossa memória.

O Público alerta-nos para a capa da Vogue brasileira e o rosto de Sónia Braga emerge com uma força telúrica, misteriosa como sempre foi apesar daquele sorriso irreprimível da novela Gabriela de Jorge Amado que integrou para sempre o nosso imaginário.

A erosão está lá, irreversível contando os minutos da nossa existência. Mas há uma força serena que irradia daquela foto, independentemente de estarmos ou não por dentro daquela personagem e do seu modo de viver a usura do tempo.

Basta-me a força da imagem. Dispenso tudo o resto.

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