(Sim, já conhecem o meu fascínio algo mórbido pela erosão que o tempo provoca nos rostos, por vezes sem quebrar a sua densidade, enraizada
nas nossas memórias. Sou tributário do que os fotógrafos de eleição nos proporcionam. Hoje é tempo
de trazer o rosto de Sónia Braga.)
Hoje, após o desaparecimento de um dos fotógrafos
incontornáveis do nosso tempo, o americano Robert Frank (ver a excelente crónica
de Sérgio B. Gomes no IPSILON do Público, link aqui), chega-me paradoxalmente
uma daquelas fotografias que me faz regressar à série dos rostos do tempo. Esse
espaço regista como se recordam os leitores mais fiéis um fenómeno que me
fascina desde há longo tempo. O tempo projeta-se nos rostos de personagens que
conviveram com os nossos devaneios culturais, de pura fruição, imaginando cenários
de proximidade que nunca existiu. Mas projeta-se de modo desigual. E só alguns
conseguem conservar a densidade e espessura que habitam para sempre a nossa memória.
O Público alerta-nos para a capa da Vogue
brasileira e o rosto de Sónia Braga emerge com uma força telúrica, misteriosa
como sempre foi apesar daquele sorriso irreprimível da novela Gabriela de Jorge
Amado que integrou para sempre o nosso imaginário.
A erosão está lá, irreversível contando os
minutos da nossa existência. Mas há uma força serena que irradia daquela foto, independentemente
de estarmos ou não por dentro daquela personagem e do seu modo de viver a usura
do tempo.
Basta-me a força da imagem. Dispenso tudo o
resto.
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