Um dos membros do board executivo do Banco Central Europeu, o luxemburguês Yves Mersh (YM), interveio no início do mês na “ESCB Legal Conference” em Frankfurt. Num texto que designou por “Money and private currencies: reflections on Libra”, YM assumiu como principal foco de atenção e ataque a moeda digital “Libra” que o “Facebook” lançou em junho. Não sendo particularmente de estranhar que um responsável de uma autoridade monetária institucionalizada produza reações negativas em relação à dita iniciativa e seus potenciais perigos, ademais procurando também chamar a atenção para questões de credibilidade associadas à denúncia que tem vindo a ganhar expressão quanto às atividades do “Facebook” em matérias de tratamento de dados pessoais e de outros perigos para a democracia à escala global, parece-me especialmente curioso o modo como Wolfgang Münchau (WM) enfatizou a respetiva leitura no seu “Eurointelligence”. Primeiro, sublinhando dois tipos de argumentos: (i) que a moeda é um bem público, portanto ligada a uma soberania de Estado, o que assim determina que uma stateless money seja do foro da aberração; (ii) que a moeda requer confiança e que esta depende de independência e accountability. Em seguida, explicitando uma concordância com a visão de one country, one currency, mas contrapondo-lhe as respetivas consequências possíveis no tocante a uma construção orçamental incompleta da Zona Euro (libra is not a state currency, but what about the euro?). Por fim, concluindo no sentido de afirmar provocatoriamente que a adoção da ideia de uma moeda estatal só pode logicamente desembocar numa defesa do federalismo orçamental. Ou seja: assim se assiste à entrada pela porta do que aparentemente já teria saído pela janela...
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