Mais um excelente artigo de António Barreto no “Público”. Chamou-lhe “Trabalhos práticos” e aproveitou-o para traçar umas linhas básicas sobre o significado da ação política e a sua aplicação ao caso português atual ― começa assim: “Cuidar do urgente. Tratar do necessário. E pensar o possível. Esta poderia ser uma das maneiras de resumir a ação política. No caso português atual, aplica-se seguramente. Podemos ter a certeza de que há desastre à nossa espera se os cidadãos e os políticos não perceberem que nenhuma das três tarefas é dispensável. Mas todas têm a sua lógica.” E termina deste modo, deliberadamente responsabilizante para os socialistas no poder: “Os socialistas têm diante de si um desses raros momentos da história em que não é difícil saber o que se deve fazer, em que se tem tempo para a obra, em que se possuem os meios indispensáveis, em que talvez tenham o apoio da maioria dos portugueses e em que podem ter aliados no campo da democracia. Será quase criminoso não aproveitar esse tempo e esse momento. Para que serve gastar a energia de tantos políticos, de tantos autarcas e de tantos cidadãos se é apenas para o curto prazo, o efémero e o superficial? Qual a utilidade da enorme mobilização de recursos e de vontades se depois nada ou pouco se faz com essa força? É verdade que os socialistas têm páginas negras nas suas folhas de serviço. Mas quem as não tem? Se é verdade que ninguém é perfeito, também é que quase não há irrecuperáveis. A força da necessidade é muita. Mas também a crença de que a política vale a pena se concebida e vivida acima da mediocridade.” Mesmo que não esteja certo de estar de acordo com aquilo que Barreto considera não ser difícil saber quanto ao que se deve fazer, prevalece sempre aquela velha máxima da gestão segundo a qual mais vale ter uma má estratégia (o que não será pensável em termos absolutos) do que não ter estratégia nenhuma, assim como a existência no seu texto de um ponto determinante quando afirma com inteira razão que “será quase criminoso não aproveitar esse tempo e esse momento [‘em que se tem tempo para a obra, em que se possuem os meios indispensáveis, em que talvez tenham o apoio da maioria dos portugueses e em que podem ter aliados no campo da democracia’]”. Infelizmente, e ao arrepio de tudo isto, a vida política portuguesa permanece bloqueada pelos casinhos do quotidiano e pelas ambições pessoais de médio e longo prazo, com a sociedade civil num aflitivo estado de adormecimento.
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