Não é que não existam suficientes problemas graves e substantivos associados à nossa mais polémica empresa pública, a TAP. Mesmo não indo tão longe quanto Luís Montenegro ao declarar que “aquilo que foi feito na TAP foi um crime político e financeiro”, não poderei disso andar demasiado longe se considerar os verdadeiros ziguezagues que têm marcado a vida da companhia ao longo de já muitos anos e, sobretudo, no quadro das orientações governamentais do atual primeiro-ministro. Assim como que estão agora em causa 3,2 mil milhões de euros de apoio público, em paralelo com uma empresa próxima da falência e a enorme urgência privatizadora que Pedro Nuno Santos deixou notoriamente de esconder.
Mas sempre teremos de convir que, de facto, a questão da renovação da frota automóvel de administradores e diretores (50 veículos BMW em regime de renting), e do modo pseudomoralista com que foi encarada pelos decisores após o surgimento de algum ruído público em torno (a comissão executiva afirmou em comunicado que “compreende o sentimento geral dos portugueses” e que “procurará manter a atual frota durante um período máximo de um ano, enquanto reavalia a política de mobilidade da empresa”), não corresponde a um caso/casinho mas a um puro abuso que merece uma menção profundamente condenatória por ser revelador de quanto tais responsáveis estão distantes da realidade que os cerca e dos níveis de compromisso ético que se lhes exige em face da função que desempenham e das vicissitudes que marcam o funcionamento da empresa que supostamente lideram.
Naturalmente que não pretendo ir mais fundo em termos de detalhes (como o daquela areia para os olhos que também constava do comunicado em apreço, a saber, aquele período em que não se eximiram de afirmar que assim optavam apesar de a decisão “ser a menos onerosa para a companhia nas atuais condições de mercado”), pelo que me fico pelo desabafo óbvio de que “Isto” está cada vez mais sem rei nem roque e de que a verdadeira culpa não está de todo do lado do mexilhão...
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