segunda-feira, 10 de outubro de 2022

COMO SERÁ O MUNDO COM UMA CLASSE MÉDIA MUNDIAL MAIS FORTE?

 


(Os dados sobre a distribuição mundial do rendimento, ou seja os que analisam a distribuição do rendimento como se não houvesse países, mas tão só indivíduos ou famílias, publicados pelo LIS Cross-National Data Center registado no Luxemburgo, é um manancial fabuloso de nova informação e de uma outra maneira de olhar o mundo. O gráfico que vos trago dá conta de uma evolução significativa registada na espessura e magnitude da chamada classe média mundial. Mas os dados trazem-nos uma perplexidade: com o advento da classe média mundial e das suas aspirações esperaríamos que a democracia avançasse em muitos dos países que contribuem para essa classe média mundial. O que não tem acontecido.

A organização do LIS (link aqui), anteriormente designado de Luxemburg Income Study, tem uma configuração curiosa, sendo composta essencialmente por três entidades: a unidade central, localizada no Luxemburgo e dirigida pelo Professor Peter Lanjouw, ocupa-se das funções centrais da organização em tudo que diz essencialmente respeito à gestão, harmonização e tratamento de dados; o USA LIS Satellite Office, talvez o mais conhecido, está associado ao Stone Center on Socio-Economic Inequality, localizado na Universidade de Nova Iorque e é dirigida por uma das mais brilhantes investigadoras sobre a desigualdade e aloja também gente de peso como Paul Krugman e Branko Milanovic (ao qual vou buscar o gráfico de hoje); o UK LIS Satellite Office está associado ao International Inequalities Institute (III) da London School of Economics e é coordenado pela Dra. Nora Waitkus.

O gráfico publicado por Milanovic no Twitter (link aqui) é surpreendente, sobretudo pela magnitude da evolução observada em 30 anos (1988 – 2018), com a interrogação de ainda não poder refletir os efeitos pandémicos e da guerra da Ucrânia.

O que o gráfico nos proporciona é o aumento da magnitude da população mundial que pode ser associada a um conceito de classe média, medido no gráfico pelo logaritmo do rendimento real anual á paridade de Poder de Compra (3.000-10.000 dólares PPC).

Este crescimento está em linha com a esperança de disseminação das forças da democracia nos países essencialmente asiáticos que contribuem para essa classe média mundial. O raciocínio era simples: as aspirações da classe média mundial anunciariam novos ventos para a democracia, insuscetíveis de ser respondidas pelos regimes mais autoritários. Porém, isso não tem acontecido, o que nos remete para o tema a que temos dedicado alguma atenção neste blogue e que consiste no peso crescente das “democracias iliberais”, uma expressão bondosa para caracterizar a perda dos direitos democráticos e da liberdade em muitas partes do mundo.

 


A propósito, alguém muito próximo, alertou-me ontem para um fabuloso podcast que o Economist publicou sobre o líder chinês Xi Jinping, intitulado THE PRINCE. Menciono-o aqui, porque o advento da classe média mundial era antecipadamente vista como fonte de grandes reformas na China, o grande alimentador do gráfico acima. Talvez encontremos no podcast as razões necessárias para compreender o irrealismo das nossas expectativas.

 

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