(Esta capa e esta expressão do Libération resumem em meu entender da maneira mais eficaz o rescaldo da primeira volta das eleições legislativas em França. Sem resultados completos, pode dizer-se que desta vez as sondagens não se enganaram. O Rassemblement National da extrema-direita de Le Pen foi como se previa o partido mais votado nesta primeira volta estima-se com algo em torno dos 33%, a mal-amanhada e preparada Nova Frente Popular parece ter resistido apesar de todas as suas contradições em torno dos 28-29% e confirma-se a derrocada do agrupamento de Macron com pouco mais de 20% e os Republicanos como que adiaram a extinção com 10%. Em pleno sangue quente da noite eleitoral, o primeiro-Ministro de Macron, ao qual pelos vistos não foi comunicada a decisão de dissolver a Assembleia numa jogada do Presidente que ninguém consegue explicar, já veio a terreiro que quando for possível a eleição de um deputado do Rassemblement os candidatos da maioria perdida do Presidente desistirão a favor do candidato melhor colocado para barrar o acesso da extrema-direita ao Matignon. Como é frequente nestas situações haverá sempre ambiciosos que se recusarão à desistência e por isso o “faire le bloc après le choc” pode não ser suficiente para impedir o retrocesso civilizacional. Como laboratório político, fica a ideia de que o partido de Le Pen representa a manifestação mais elaborada de tentar criar uma nuance política que lhe retire a chancela do fascismo e da xenofobia, ocultando isso na propagação dos valores nacionalistas, tão caros ao velho chauvinismo francês que continua a recusar-se reconhecer a mudança do mundo.)
Só me apetece dizer que, dois lados do Atlântico, teremos uma semana crucial para as esperanças dos que não desistem da democracia. Em França, veremos o que dá efetivamente o “faire le bloc”. Do lado de lá do Atlântico, os Democratas terão que decidir de vez se estão dispostos a comungar do “funeral antecipado” do cansado Biden ou se tentarão ainda um golpe de mudança propondo outro candidato. Surpreendentemente, depois do apagão de Biden, incapaz de conter a peixeirada de Trump, parece que os financiamentos para a campanha de Biden não terão experimentado qualquer recuo apesar do pronunciamento quase generalizado da imprensa mais próxima dos Democratas recomendar a desistência de Biden. O que quer dizer que muito provavelmente os Democratas irão até ao fim.
O mundo não vai recomendar-se.
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