Umas eleições europeias sensaboronas mas bem mais auspiciosas do que se admitia. Por cá, chegou a clara derrota do Chega para que os portugueses que prezam a democracia se possam ter sentido compensados pelos resultados. Entre o PS e a AD persiste um empate técnico (desta vez a diferença foi inferior a 40 mil votos a favor dos socialistas, nas legislativas fora de 50 mil a favor da coligação de centro-direita), deixando sérias dúvidas quanto à probabilidade de qualquer crise política por ocasião do Orçamento – Montenegro está feliz assim e com frenesim bastante para enfrentar as adversidades que possam surgir, Pedro Nuno também parece feliz assim e com vontade de fazer o seu caminho devagar, devagarinho e, ademais, Ventura vai ter de apontar as suas baterias para a recuperação dos votantes perdidos.
A notícia da noite veio da boca do primeiro-ministro quando informou a malta de que o seu governo apoiará uma candidatura de António Costa à presidência do Conselho Europeu, o que os resultados registados à escala dos 27 parece consentir com relativa lógica e naturalidade (ver gráfico abaixo, bem elucidativo de que serão altamente prováveis acordos de governação entre grupos políticos moderados, nomeadamente entre o PPE e o S&D com alargamento aos Liberais ou aos Verdes). Não que a passagem de Costa pelo poder nacional o qualifique suficientemente para beneficiar de um tal prémio – cito Manuel Carvalho, há dias no “Público”, e fica o assunto arrumado: “durante oito anos uma parte do país exasperou com o ‘arrastar dos pés’ dos governos de António Costa” –, mas sim porque Costa vai estar no lugar certo à hora certa e também porque apresenta as condições de personalidade para um desempenho adequado do lugar a que tanto aspira (perspicácia e vivacidade, experiência e capacidade negocial, moderação e latitude de princípios, simpatia quando lhe interessa).
Quanto ao resto, i.e., à dimensão comunitária, e a despeito de vários apuramentos ainda estarem por fechar em definitivo e de ainda não estar devidamente apreendida a identidade político-ideológica das forças ditas “não alinhadas”, o que fica desde já claro é o facto feliz de não ter acontecido um generalizado terramoto de largo espetro que trouxesse a extrema-direita a uma indesejável centralidade nas escolhas europeias para o próximo quinquénio (afastando desde logo as tentações de Ursula von der Leyen para se aproximar de uma sua potencial salvadora como Giorgia Meloni). Sem prejuízo das preocupantes evoluções no quadro do eixo franco-alemão, com a situação francesa por si só (eleições legislativas convocadas por Macron, num momento em que Marine Le Pen acaba de obter quase um terço dos votos expressos nas eleições de ontem) a não ser coisa pouca. E tendo ainda presente a complexidade do quadro político europeu e, com ela, a variabilidade de votos que podem parecer adquiridos – matéria para que Ursula estará seguramente alerta, mais não fosse pelo que lhe aconteceu há cinco anos quando ia perdendo em votos expressos depois de ser dada por vencedora pela soma aritmética dos apoios ditos partidariamente assegurados.
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