quarta-feira, 26 de junho de 2024

O TREINADOR DE BANCADA ATACA DE NOVO!

 


(E aqui estou de novo com algumas notas soltas sobre as minhas impressões do Euro, não do edifício monetário, mas antes do evento desportivo que tem marcado o tempo da comunicação em Portugal, isto apesar das diatribes do Ventura ou dos atrevimentos inqualificáveis de algumas personalidades do Ministério Público. Por agora, não vou fundo nas prestações da equipa portuguesa e a explicação é a divergência entre as duas primeiras observações. Ou seja, preciso de uma terceira observação e essa talvez ainda não seja a do jogo de hoje com a Geórgia. Interessar-me-ei por isso por outras prestações coletivas e individuais. Globalmente, o torneio tem excedido as minhas expectativas e penso que poderá falar-se de um equilíbrio superior ao esperado, gerado seja por prestações abaixo do esperado, como a da Inglaterra ou da França, seja por agigantamentos como o da Eslovénia ou o da Áustria. Vou ainda fixar-me em alguns desempenhos individuais.)

Comecemos pelo desempenho coletivo. Quais são as duas seleções que mais me impressionaram até agora? Consigo, acho eu, identificar dois modelos de prestação coletiva de grande nível. Primeiro, o modelo da Espanha, ao qual o selecionador Luís de la Fuente conseguiu criar um modelo de jogo compatível com a suprema qualidade dos seus intérpretes individuais, extensivo não apenas aos normalmente escolhidos, mas envolvendo a grande maioria da segunda equipa. A verticalidade do jogo de Espanha é notável, com diagonais mortalmente dirigidas à baliza e com um suporte de um meio-campo de qualidade superlativa. Mas o torneio revelou em meu entender um outro modelo coletivo diferente porque não apoiado na multiplicidade de talentos individuais. Esse modelo é o da Áustria, onde provavelmente por milagre do futebol um treinador que foi pouco mais do que totó no Manchester United, Ralf Rangnick, aparece no Euro a comandar uma equipa de grande perfeição coletiva, abafando a impetuosidade dos Países Baixos. Os talentos de Sabitzer e de Arnautovic não são suficientes para quebrar a hegemonia do talento coletivo sem grandes personalidades e aí está o primeiro lugar da Áustria no seu grupo para justificar o meu raciocínio.

No plano oposto, temos um modelo de desatino coletivo completo, ao qual a energia e poder físico e o talento individual não chegam para ocultar a iniquidade dos princípios de jogo. Esse modelo é o da Sérvia, sobretudo pela má qualidade e desorientação tática do seu treinador. Dragan Stojkovic deveria começar a pensar em mudar de profissão e dedicar-se ao culto da memória do seu passado. Em seis meias-partes, a equipa da Sérvia jogou com opções táticas diferentes e é uma tragédia assistir ao desperdício de tantos talentos nessa desorientação tática, é verdade que alguns já muito perto do ocaso.

Esta talvez tenha sido a maior deceção coletiva, mas com gradações diferentes e não está em causa a classificação ou a eliminação, outras equipas tiveram prestações aquém do que seria de esperar, por razões diferentes. A Croácia é um desses exemplos. Talvez pelo simbolismo da mais que provável retirada de Luca Modric, a Croácia é uma equipa que necessita de rejuvenescimento de ideias e a sua eliminação é consequência direta desse fato e em parte também de lhe ter saído a fava de entrar num grupo com a Espanha e a Itália. A Polónia vai pelo mesmo caminho, apesar da reação no jogo com a França. Mas é também simbólico que Lewandowsky esteja também perto da retirada.

Noutro plano, poderá dizer-se que a França e a Inglaterra apresentam uma eficácia de jogo aquém do que o somatório dos seus talentos justificaria, embora alguns deles tenham apresentado prestações muito inferiores ao desempenho nas respetivas ligas (por exemplo Declan Rice na Inglaterra ou o próprio Mbappé na França e, neste último caso, não tem nada que ver com os problemas do seu nariz). Aliás, no caso de Mbappé, continuo a achar que há qualquer coisa de inexplicável em tanta potencialidade não concretizada.

E há ainda os casos da Dinamarca e dos Países Baixos que considero serem dois modelos de combinação de organização coletiva e de talentos e que podem ambos ir longe se a dinâmica do sorteio lhes proporcionar condições de aplicação favorável dessa combinação de recursos individuais e coletivos.

No plano individual, se por acaso do destino integrasse alguma equipa de olheiros ou de intermediação de jogadores teria aqui no Euro um vastíssimo campo de observação:

  • Alemanha: inequivocamente Musiala e Wirtz;
  • Bélgica: praticamente sem realidades emergentes além dos consolidados, talvez Onana possa ser a exceção;
  • Dinamarca: pouca novidade, com exceção do crescimento de Mortem Hjulmand e o Sporting de Varandas agradece;
  • Eslováquia: o meio-campista e mestre de cerimónias Lobotka, que jogador!
  • Eslovénia: a confirmação de Oblak (tanto talento passou pela Luz) e a dupla atacante Sesko e Sporar, este bem mais robusto do que quando passou pelo Sporting;
  • Espanha: a dificuldade está em distinguir talentos, tantos são os que integram as duas equipas possíveis e é por isso que o talento de comando de De la Fuente merece ser destacado;
  • França: o insuperável Saliba (um defesa de posicionamento e sobriedade soberbos), Kanté (a aranha omnipresente, a quem parece que a ida para as Arábias não prejudicou) e Theo Hernandez sobretudo pela combinação insuperável de talentos defensivos e ofensivos;
  • Geórgia: Giorgi Mamardashvi um guarda-redes de encher o olho e a baliza e a arte de Khvicha Kvaratskhelia;
  • Inglaterra: obviamente Jude Bellinghan mas sem Ancelotti e a organização do Real por trás não parece ser o mesmo;
  • Itália: a surpresa emergente de Calafiori, a quem a equipa deve o empate face à Croácia e a confirmação de um insuperável Barella;
  • Países Baixos: o talento emergente de Xavi Simons e a capacidade organizativa de Reijnders;
  • Suiça: a confirmação de Akamji e a revelação de Ndoye;
  • Turquia: obviamente o sempre fiável Çalhanoglu e o talento de Guller;
  • Ucrânia: o nome de Sudakov emerge entre os restantes;
  • Albânia, Chéquia, Roménia: ninguém me impressionou por aí além.

E por aqui me fico até que haja algo que justifique algum comentário adicional.

 

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