António Barreto (AB) é um caso de estudo. Anda por aí há décadas a pronunciar-se sobre o entendimento que vai tendo acerca da essência dos factos que se nos deparam e das evoluções que os mesmos anunciam, sempre procurando chamar à colação os ensinamentos do passado e o conhecimento possível das causalidades em presença. Tão vasta é a sua produção de cronista – deixo aqui de lado as outras, literária, académica e cultural – que nela terão necessariamente de existir fases de maior ou menor acerto e até de maior ou menor assertividade temática, quiçá momentos de asneira à solta. Mas tal é do foro do inevitável quando alguém propende à abrangência e roça a genialidade. Vem tudo isto a propósito da crónica de AB no “Público” deste Sábado (“Europa: o pior e o melhor dos mundos”), que me parece representar um dos referidos momentos altos do intelectual – detalhes à parte, AB explica-nos a inutilidade e ineficácia das eleições europeias à luz das escolhas que consubstanciaram a construção europeia, sublinhando frontalmente a enorme debilidade a que erros quase fatais cometidos num quadro globalizante conduziu a União na presente conjuntura de crise e ameaças externas mas não se eximindo a deixar no ar a esperança de uma Europa renascida ou transformada que aprofunde o privilégio dos europeus de “viver no melhor dos mundos” – e assim conclui: “Cuidar da Europa é cuidar de nós. E da nossa liberdade.” Um aceno de reconhecimento a AB por este texto, sinceramente merecedor de leitura atenta e distribuição generalizada.
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