terça-feira, 7 de março de 2017

NO RESCALDO DA PARTICIPAÇÃO NO CIHEL




(Da participação na 1ª Conferência do CIHEL, hoje no Porto, fica sobretudo a revisita a algumas obras relevantes do pensamento urbano e sobretudo através dos trabalhos de Robert J. Sampson a atenção que passarei a prestar ao estudo dos efeitos de vizinhança e de proximidade na Cidade, ao qual corresponde uma abordagem analítica que me parece muito promissora e com grandes perspetivas de desenvolvimento…)

Está cumprida a presença na 1ª Conferência do CIHEL e penso que a conversa com o Arquiteto Pedro Ramalho e o Professor Engenheiro Vítor Abrantes, moderada pelo jornalista Valdemar Cruz terá respondido às expectativas, embora talvez, para não satisfação dos conferencistas brasileiros e africanos de expressão portuguesa, o debate talvez se tenha centrado demasiadamente na questão do Porto Cidade, por força sobretudo da orientação do moderador.

Para além do prazer da presença, ficam para mim sobretudo algumas pistas para reflexão futura que decorrem da preparação da intervenção. O significado de poder falar-se de efeito de unidades de vizinhança e de proximidade em cidades de grande dimensão e desse efeito poder explicar níveis diferenciados de eficácia coletiva nessas cidades e por essa via taxas diferenciadas de violência e criminalidade é de facto uma importante aquisição para o futuro.

Os resultados da pesquisa de Sampson e o início da sua utilização comparativa são promissores a vários níveis. A relevância das unidades de vizinhança e de proximidade na grande Cidade vem ao encontro das ideias originais de Jane Jacobs segundo as quais haveria um preconceito emocional para com a concentração humana apontada à partida como indesejável. A emergência do conceito de eficácia coletiva e a sua relevância para explicar por exemplo os níveis diferenciados de violência entre diferentes unidades de vizinhança é tanto mais importante quanto ele surge associado à densidade da infraestrutura cívica, medida pelo peso de instituições e organizações sem fins lucrativos de ação marcadamente coletiva. A influência dessa infraestrutura cívica vai para além das relações pessoais individuais de amizade ou parentesco, para combinar o que Sampson chama de coesão social com expectativas partilhadas de controlo social. E é também importante porque parece contrariar a tese do declínio cívico individual, associado ao que Hirschman designava de comportamentos de deceção face ao interesse coletivo. E como não seria de esperar apontam para novas orientações na política pública, menos orientada para a perspetiva tradicional dos públicos-alvo e mais apostada em valorizar o papel de intermediação que a referida infraestrutura cívica pode protagonizar.

Em artigo mais recente (2016), Sampson alarga este quadro teórico e de análise multimétodo ao tema da sustentabilidade urbana para o século XXI, articulando as questões sociais e as ambientais, mostrando pela mesma via da eficácia coletiva e da densidade da infraestrutura cívica, que é possível uma outra abordagem às questões da sustentabilidade. O que mostra que a abordagem tem campo para se desenvolver, podendo considerar-se uma via promissora para integrar essas duas dimensões da sustentabilidade, não ficando limitados ao tema da descarbonização das Cidades.

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