(Da participação na
1ª Conferência do CIHEL, hoje no Porto, fica sobretudo a revisita a algumas obras
relevantes do pensamento urbano e sobretudo através dos trabalhos de Robert J. Sampson
a atenção que passarei a prestar ao estudo dos efeitos de vizinhança e de
proximidade na Cidade, ao
qual corresponde uma abordagem analítica que me parece muito promissora e com grandes
perspetivas de desenvolvimento…)
Está cumprida a presença na 1ª Conferência do CIHEL e penso que a conversa
com o Arquiteto Pedro Ramalho e o Professor Engenheiro Vítor Abrantes, moderada
pelo jornalista Valdemar Cruz terá respondido às expectativas, embora talvez,
para não satisfação dos conferencistas brasileiros e africanos de expressão
portuguesa, o debate talvez se tenha centrado demasiadamente na questão do
Porto Cidade, por força sobretudo da orientação do moderador.
Para além do prazer da presença, ficam para mim sobretudo algumas pistas
para reflexão futura que decorrem da preparação da intervenção. O significado
de poder falar-se de efeito de unidades de vizinhança e de proximidade em cidades
de grande dimensão e desse efeito poder explicar níveis diferenciados de eficácia
coletiva nessas cidades e por essa via taxas diferenciadas de violência e
criminalidade é de facto uma importante aquisição para o futuro.
Os resultados da pesquisa de Sampson e o início da sua utilização
comparativa são promissores a vários níveis. A relevância das unidades de
vizinhança e de proximidade na grande Cidade vem ao encontro das ideias
originais de Jane Jacobs segundo as quais haveria um preconceito emocional para
com a concentração humana apontada à partida como indesejável. A emergência do
conceito de eficácia coletiva e a sua relevância para explicar por exemplo os
níveis diferenciados de violência entre diferentes unidades de vizinhança é
tanto mais importante quanto ele surge associado à densidade da infraestrutura
cívica, medida pelo peso de instituições e organizações sem fins lucrativos de
ação marcadamente coletiva. A influência dessa infraestrutura cívica vai para
além das relações pessoais individuais de amizade ou parentesco, para combinar
o que Sampson chama de coesão social com expectativas partilhadas de controlo
social. E é também importante porque parece contrariar a tese do declínio
cívico individual, associado ao que Hirschman designava de comportamentos de
deceção face ao interesse coletivo. E como não seria de esperar apontam para
novas orientações na política pública, menos orientada para a perspetiva
tradicional dos públicos-alvo e mais apostada em valorizar o papel de
intermediação que a referida infraestrutura cívica pode protagonizar.
Em artigo mais recente (2016), Sampson alarga este quadro teórico e de análise
multimétodo ao tema da sustentabilidade urbana para o século XXI, articulando
as questões sociais e as ambientais, mostrando pela mesma via da eficácia
coletiva e da densidade da infraestrutura cívica, que é possível uma outra abordagem
às questões da sustentabilidade. O que mostra que a abordagem tem campo para se
desenvolver, podendo considerar-se uma via promissora para integrar essas duas dimensões
da sustentabilidade, não ficando limitados ao tema da descarbonização das
Cidades.
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