E não é que eu fui ver o “La La Land”? E para ainda maior espanto: não é que gostei mesmo do filme?
Razões do foro íntimo ou mais ou menos aproximadas levaram-me às Amoreiras numa daquelas raras tardes feias e chuvosas de Lisboa e, por lá, a um daqueles momentos em que se assume que “perdido por um...”. Pois, no final das contas, não foi um tempo nada perdido, já que (e cito Jorge Leitão Ramos, JLR) “’La La Land’ é um musical muito bem arquitetado, colhendo boas lições dos mestres do género, de Busby Berkeley a Vincente Minnelli e a Bob Fosse, faz, com habilidade, a ponte entre o classicismo e a modernidade (veja-se a sequência inicial, veja-se a vera ausência de happy end após um número longo que evoca “Um Americano em Paris”) — e, sobretudo, tem a felicidade de mostrar que o cinema é um lugar mágico onde apetece estar.”
O amor (des)encontrado/(im)possível entre Mia (uma talentosa aspirante a atriz, magnificamente interpretada pela expressiva Emma Stone) e Sebastian (um músico de jazz algo tradicionalista, bem desempenhado por um sóbrio Ryan Gosling) é abordado por Damien Chazelle (um improvável mas merecido Óscar de realização) de modo inteligente e até inovador, especialmente na medida em que ao não ceder ao convencional, ao fácil e ao lamechas poderá ter vindo contribuir para a devolução ao género musical de uma maioridade que se lhe admitia definitivamente em perda (com honrosas exceções pontuais) desde meados do século passado. Também porque, como muito apropriadamente recordou JLR, “acontece que teve catorze nomeações e a menos que nos arroguemos autoridade sobre a opinião generalizada dos membros votantes da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, de Hollywood, convém perceber que eles não devem andar todos cegos”. E, por fim, pela deliciosa banda sonora... com aqueles “City of Stars” ou “Epilogue” de Justin Hurwitz a puxar pelo melhor dos mais genuínos e fortes sentimentos humanos.
Sem comentários:
Enviar um comentário