domingo, 12 de março de 2017

POR TERRAS DO OESTE E LISBOA




(Solicitações decorrentes da profissão de andarilho do planeamento levaram-me este sábado à Lourinhã para uma sessão comemorativa dos 25 anos da Denominação de Origem Controlada da Aguardente da Lourinhã, e daí a Lisboa foi um passo…)

Profissionalmente, tenho tido algumas incursões esporádicas no universo da economia do vinho e derivados, que desejaria que fossem menos esporádicas pois é um tema fascinante e não estou a falar apenas do palato e do bem-estar geral. Primeiro em torno das questões dos vinhos do Douro e do Porto, depois a propósito do Alvarinho, tenho tido o prazer de lidar com um tema abrangente da viticultura ao mercado, passando pelas questões da organização e das tendências de procura. Já há mais de dois anos que se desenha e não se confirma a possibilidade de trabalhar em torno do relançamento da Aguardente DOC da Lourinhã, a única do país, com raízes ancestrais e com a curiosidade de já ter sido a fonte mais importante de abastecimento de aguardente ao vinho do Porto que, como é sabido, é um vinho fortificado. Seria a oportunidade para entrar no universo dos “spirits” que é um mundo à parte na economia do vinho, com problemáticas tão distintas como as do whiskey, gin, vodka ou rum e onde incluímos as aguardentes DOC, sendo as mais conhecidas as francesas do Cognac (cerca de 170 milhões de garrafas de 0,70 litros /ano) e as do Armagnac (de bem mais pequena expressão com cerca de 6,6 milhões de garrafas/ano).


Imagina-se, por isso, a ambição da região DOC da aguardente da Lourinhã que engloba freguesias da Lourinhã, de Torres Vedras, do Bombarral, de Peniche e de Óbidos, ou seja em pleno Oeste, de disputar uma posição de mercado neste mundo da sofisticação dos Spirits, que se destaca no mundo da economia do vinho por comportamentos de preços que se afastam bastante dos padrões médios da economia do vinho.

Para maior curiosidade e desafio intelectual, o setor da DOC Lourinhã é em si próprio algo de pouco usual, com uma espécie de duopólio, entre uma empresa privada, a Quinta do Rol, e uma cooperativa, a Adega Cooperativa da Lourinhã, ambas disputando o mercado e com a curiosidade da única destilaria certificada na região ser a da Quinta do Rol, funcionando tudo numa modalidade cooperativa até agora não impeditiva das pretensões de relançar a região DOC. Duas estratégias muito diferenciadas. O projeto da Quinta do Rol, liderado pelo Dr. Melo Ribeiro, ex-CEO da Siemens, tem uma âncora forte numa sociedade agrícola, com um investimento turístico de grande qualidade e um centro hípico voltado para o mercado do Norte da Europa e canais de distribuição a que não é estranha a própria carreira internacional do prestigiado gestor. A Adega Cooperativa com uma forte resiliência, acumulação de experiência, bem apoiada pelo conhecimento científico reunido pelo posto agrário de Dois Portos (Quinta da Almoinha), hoje Estação Vitivinícola Nacional, mais voltada para o mercado interno, mas com algumas incursões no mercado asiático, particularmente de Macau e complementaridades locais, como a confeitaria e pastelaria e gastronomia em geral.

25 anos de região DOC comemorados curiosamente na Quinta do Rol que acolheu as forças vivas do produto, incluindo as autarquias com territórios na região demarcada e que têm agora o desafio de organizar o território para melhor trabalhar a identificação da aguardente com a desejada inimitabilidade desse mesmo território. E a própria Colegiada (a confraria da Aguardente da Lourinhã) animou ativamente as comemorações.

Não sei se será desta vez que se confirma a desejada realização do trabalho que me fará regressar a este tipo de economia, na qual a relação de identidade entre o produto e o território é crucial.

Da Lourinhã a Lisboa é um tirinho e por isso a família em Lisboa chama e assim se combina trabalho com afeto.


Oportunidade para conhecer mais um espaço verde e de lazer de grande qualidade da capital, o complexo do Parque da Quinta das Conchas /Quinta dos Lilases, ao Lumiar, bem em frente às antigas instalações do quartel da Administração Militar onde há 43 anos este vosso amigo assistiu e participou no 25 de abril.

Trabalho, afetos e memórias ainda não totalmente desfocadas.

(Obviamente que não quero polemizar internamente, mas, embora disso não tenha a certeza, pois não li a crónica semanal de Maria de Lurdes Rodrigues a que o meu estimado colega de blogue e amigo se refere no seu último post, em 22 de abril de 2015 fiz referência ao mencionado gráfico, ver link aqui. Não sei claro se em primeira mão e nem sequer é o mais importante).

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