(Ricardo Soares para a Sábado)
(Quis a álea da
vida que a doença impedisse Agustina Bessa Luís de continuar a escrever, por isso
temos de nos contentar com o que temos, quase tudo, na estante e esperar que a
arca da família esteja organizada, assim parece …)
Os últimos dias foram dias contraditórios em torno do nome e da obra de
Agustina Bessa Luís, que povoa abundantemente as estantes de Seixas, já que o
espaço de proximidade já não o permite.
Primeiro, a polémica entre a família e a Leya de Álvaro Sobrinho e de Paulo
Teixeira Pinto (mas que raio de sociedade), que a Sábado documentou, não é
digna da pena de Agustina. Uma obra como a sua e o seu talento de representação
dos ambientes e atmosferas da burguesia portuense não mereciam estar envolvidos
em questões de “mercearia” editorial. A editora lamenta-se da quebra de procura,
o que não é para mim surpresa, a partir do momento em que não vejo gente nova a
penetrar no universo de Agustina.
Mas da arca da família e do esforço da sua neta Lourença Baldaque e do
patrocínio da Fundação Calouste Gulbenkian saíram recentemente os fabulosos três
volumes dos ensaios e artigos que Agustina foi publicando por jornais e
revistas de 1951 a 2007, num conjunto completo de noventa euros de preço base. É
de uma torrente de pensamento e de argúcia e subtileza de pensamento que não tem
paralelo na literatura portuguesa contemporânea que estamos a falar, mas que é
fundamental para compreender o conteúdo dos seus romances.
Indisciplinado como sou comecei pelo volume mais recente.
De um artigo sobre teatro, Webster, Shakespeare e outras:
“A
indiferença é uma hostilidade sem heroísmo, mas hostilidade à mesma”.
(volume 3,p. 1859).
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