(O trabalho de Max
Roser em matéria de construção e disponibilização de bases de dados mundiais é
notável, merece exploração diversificada, e aqui está uma possível …)
Aprecio o trabalho insano de Max Roser na OUR WORLD IN DATA, publicação na rede que nos proporciona um
alfobre notável de informação, haja intuição, domínio dos métodos e tempo para
a trabalhar em diferentes domínios. A base não passa despercebida aos bloggers mais atentos como Mark Thoma no
Economist’s View, um sítio de religiosa
peregrinação diária da minha parte e uma espécie de bem público produzido a
partir da Universidade de Oregon nos Estados Unidos da América para todo o
mundo.
A entrada sugerida por Mark Thoma é a da relação entre a evolução da
esperança de vida à nascença e das despesas em saúde. O objetivo do blogger é
claramente o de situar a ofensiva de Trump contra o Obamacare, não evidentemente
pensando influenciar o atual presidente americano, já que a peça é capaz de dizer
uma coisa e o seu contrário num simples fechar de olhos. Como foi aliás o
recente caso do seu comentário sobre os números da criação de emprego nos EUA,
pobre segundo ele nos tempos de Obama, e promissora com a publicação dos
primeiros números em tempo da sua administração, claramente similares aos de Obama
mas agora já não classificados como um desempenho débil.
O gráfico que abre este post mostra as curvas com achatamento superior que
descrevem a relação entre a evolução da esperança de vida e a das despesas per
capita em saúde. Nada de novo. Apesar dos esforços de aumento da despesa per
capita, nos quais é necessário distinguir entre o efeito-volume (mais serviços
de saúde ) e o efeito-preço (conhecido pelo aumento do preço relativo da saúde
face aos demais bens, com contornos que merecem um post à parte), a esperança
de vida não aumenta na mesma proporção. Mas a novidade do gráfico está na posição
dos EUA. Para a mesma despesa per capita em saúde (à paridade de poder de
compra), os EUA apresentam resultados bem mais baixos em matéria de esperança
de vida. O que evidencia bem o gap de saúde de que padece a sociedade americana.
O gráfico acima abandona a perspetiva temporal. Para um dado ano, o gráfico
compara as despesas per capita em saúde
e a esperança de vida. A curva com achatamento superior emerge outra vez. Os países
com despesas per capita mais elevadas em saúde não conseguem ganhos
proporcionais, a partir de um certo limiar de esperança de vida, desta última. Mas
os EUA surgem de novo como a ovelha tresmalhada do rebanho. O seu par de
valores é bem dissonante da relação estabelecida. Segundo a curva, os EUA,
atendendo à sua despesa per capita, deveriam ter uma esperança de vida bem mais
elevada. O que é que isto quer dizer? Que há fatores bem mais determinantes da
esperança de vida nos EUA que não estão contemplados na relação que o gráfico
pretende representar. Ou seja, outros fatores de desigualdade na sociedade
americana.
Finalmente, o gráfico acima descreve a evolução da população não coberta
por mecanismos de seguros de saúde nos EUA. É bem visível o efeito do Medicare
e do Medicaid, introduzidos pelo Affordable Care Act de Obama em junho de 2012.
Aliás, essa quebra de população não coberta com seguro de saúde é
significativamente mais elevada nos Estados que aderiram ao modelo de Obama. Questão
que a administração Trump pretende destruir e cujas propostas oportunamente serão
aqui comentadas.
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