terça-feira, 14 de março de 2017

ESPERANÇA DE VIDA E DESPESA EM SAUDE: ALGUNS GRÁFICOS




(O trabalho de Max Roser em matéria de construção e disponibilização de bases de dados mundiais é notável, merece exploração diversificada, e aqui está uma possível …)

Aprecio o trabalho insano de Max Roser na OUR WORLD IN DATA, publicação na rede que nos proporciona um alfobre notável de informação, haja intuição, domínio dos métodos e tempo para a trabalhar em diferentes domínios. A base não passa despercebida aos bloggers mais atentos como Mark Thoma no Economist’s View, um sítio de religiosa peregrinação diária da minha parte e uma espécie de bem público produzido a partir da Universidade de Oregon nos Estados Unidos da América para todo o mundo.

A entrada sugerida por Mark Thoma é a da relação entre a evolução da esperança de vida à nascença e das despesas em saúde. O objetivo do blogger é claramente o de situar a ofensiva de Trump contra o Obamacare, não evidentemente pensando influenciar o atual presidente americano, já que a peça é capaz de dizer uma coisa e o seu contrário num simples fechar de olhos. Como foi aliás o recente caso do seu comentário sobre os números da criação de emprego nos EUA, pobre segundo ele nos tempos de Obama, e promissora com a publicação dos primeiros números em tempo da sua administração, claramente similares aos de Obama mas agora já não classificados como um desempenho débil.

O gráfico que abre este post mostra as curvas com achatamento superior que descrevem a relação entre a evolução da esperança de vida e a das despesas per capita em saúde. Nada de novo. Apesar dos esforços de aumento da despesa per capita, nos quais é necessário distinguir entre o efeito-volume (mais serviços de saúde ) e o efeito-preço (conhecido pelo aumento do preço relativo da saúde face aos demais bens, com contornos que merecem um post à parte), a esperança de vida não aumenta na mesma proporção. Mas a novidade do gráfico está na posição dos EUA. Para a mesma despesa per capita em saúde (à paridade de poder de compra), os EUA apresentam resultados bem mais baixos em matéria de esperança de vida. O que evidencia bem o gap de saúde de que padece a sociedade americana.


O gráfico acima abandona a perspetiva temporal. Para um dado ano, o gráfico compara as despesas per capita em saúde e a esperança de vida. A curva com achatamento superior emerge outra vez. Os países com despesas per capita mais elevadas em saúde não conseguem ganhos proporcionais, a partir de um certo limiar de esperança de vida, desta última. Mas os EUA surgem de novo como a ovelha tresmalhada do rebanho. O seu par de valores é bem dissonante da relação estabelecida. Segundo a curva, os EUA, atendendo à sua despesa per capita, deveriam ter uma esperança de vida bem mais elevada. O que é que isto quer dizer? Que há fatores bem mais determinantes da esperança de vida nos EUA que não estão contemplados na relação que o gráfico pretende representar. Ou seja, outros fatores de desigualdade na sociedade americana.


Finalmente, o gráfico acima descreve a evolução da população não coberta por mecanismos de seguros de saúde nos EUA. É bem visível o efeito do Medicare e do Medicaid, introduzidos pelo Affordable Care Act de Obama em junho de 2012. Aliás, essa quebra de população não coberta com seguro de saúde é significativamente mais elevada nos Estados que aderiram ao modelo de Obama. Questão que a administração Trump pretende destruir e cujas propostas oportunamente serão aqui comentadas.

Sem comentários:

Enviar um comentário