(A desaceleração
do crescimento da produtividade nas principais economias avançadas, medida quer
pela produtividade aparente do trabalho, quer pela produtividade global dos
fatores, continua a intrigar os economistas; o tema tem interessado este blogue e hoje
aqui fica uma ótica diferente para a sua explicação …)
Este blogue tem dado a devida atenção a este facto estilizado do
crescimento mais recente. A degradação dinâmica da produtividade coexiste com
uma recuperação das economias que está longe de poder ser considerada satisfatória.
Coexiste também, sobretudo nos EUA, mas também no Reino Unido, com reduções
consideráveis da taxa de desemprego, a ponto de alguns economistas falarem a
propósito da economia americana de “quase pleno emprego”, facto que torna ainda
mais estranha a audiência popular das teses económicas de Trump.
As perspetivas de debate que temos trazido até a este espaço são
praticamente todas de natureza macro, é de produtividade global que temos falado.
É tempo de conceder espaço a explicações que colocam a dimensão micro e das
empresas no radar do debate.
Os economistas da OCDE Dan Andrews, Chiara Criscuolo e Peter Gal trazem para o VOX EU ecos de investigação realizada nos gabinetes da OCDE pela qual trazem
para a explicação da degradação da produtividade aspetos micro.
Os três economistas introduzem no debate dois elementos de valia
explicativa a que não podemos ficar indiferentes. Por um lado, chamam a atenção
para a crescente heterogeneidade dos níveis de crescimento da produtividade
entre as empresas dos países OCDE. Por outro, sugerem estar a acontecer um
intenso processo de destruição criadora, expulsando da atividade empresas com
menor desempenho e introduzindo no sistema empresas mais eficientes, o que
gera um intenso processo de afetação de recursos em direção a atividades mais
produtivas.
Na análise dos três economistas destaca-se o tratamento dos gaps que estão
a cavar-se entre as empresas de fronteira (as que apresentam níveis de
produtividade mais elevados, mais propriamente os 5% de empresas com as produtividades
mais elevadas) e as empresas vassoura (as que apresentam as produtividades mais
baixas e estão sistematicamente em risco de ser expulsas do mercado), por
simplificação todas as restantes. As diferenças de ritmos de crescimento da
produtividade para estes dois grupos de empresas (numa base harmonizada de
empresas de 24 países OCDE) são assinaláveis, cerca de 1 para 4 ou 5 (2,8% nas
empresas fronteira e 0,6% nas restantes). Este gap pode sugerir que a questão
da degradação dinâmica da produtividade não seja explicada pelo caráter mais
lento do ritmo tecnológico na fronteira (como é sugerido pelas teses de Robert
Gordon, já aqui analisadas em devido tempo, ver post de 3 de agosto), mas antes pelos padrões de
heterogeneidade no universo empresarial e pelo agravamento das desigualdades de
desempenho empresarial. O que é relevante assinalar é que nas análises dos três
economistas a explicação parece subsistir mesmo quando se introduz na explicação
os graus de intensidade em capital dos setores e das empresas e as margens mais
elevadas que as empresas de fronteira podem estabelecer na fixação dos seus
preços.
Mas uma explicação cabal deste desempenho diferenciado exige a ponderação
das causas que explicam o maior crescimento da produtividade nas empresas de
fronteira, caso contrário estaríamos perante uma tautologia, ou seja, fronteira
= maior crescimento da produtividade. Nesse aspeto, o trabalho dos três economistas
ainda tem algum pão duro para roer. Uma hipótese será a possibilidade das
empresas de fronteira estarem a concentrar os benefícios da economia digital e
de outras manifestações da tecnologia mais moderna. Mas esta hipótese parece
contrariar o princípio da difusão da inovação tecnológica, ou seja, porque razão
ao contrário de outras épocas não se opera a difusão a partir das empresas que ocupam
a fronteira tecnológica. Os autores invocam com especial incidência nos
serviços de tecnologias de informação e comunicação o efeito “The winner takes all the dynamics”, ou seja,
algo de semelhante ao “eles comem tudo” aplicado à tecnologia. Mesmo assim, não
se entende por que razão os que não estão na fronteira não são incentivados a
utilizar as mesmas tecnologias. Questões de concentração empresarial excessiva,
decorrente por exemplo dos elevados investimentos em I&D só acessíveis aos grandes?
Sem comentários:
Enviar um comentário