domingo, 20 de agosto de 2017

A ENTREVISTA DE ALEXANDRA





Já tinha referido neste blogue o murro no estômago que a leitura de Deus-dará representou para mim, totalmente virgem em relação a visitas físicas ao Brasil. O estilo caótico religioso de um romance que na minha humilde capacidade de crítica literária penso que é único na literatura portuguesa desenvolve-se em sete dias na sociedade do Rio de Janeiro, sete dias avassaladores a um ritmo impressionante que têm por epicentro os tumultos e manifestações de 2013. Mas no meio de uma trama que envolve personagens do mundo luso-brasileiro com múltiplas ascendências e origens culturais, Alexandra Lucas Coelho reúne pesquisa histórica, sociológica, política. É um livro que se lê à velocidade dos acontecimentos e dos ritmos dos personagens, mas é sobretudo uma construção linguística totalmente original que o faz diferente, como se um português fusão de duas culturas emergisse e nos apontasse que este vai ser o futuro, com ou sem a merda do acordo ortográfico a vigorar.

Alexandra é uma personagem rebelde e não hesita por isso em meter-se decidida pelo tema incómodo da crítica à pretensa brandura dos Descobrimentos portugueses que certamente lhe irá provocar inimizades e outras reações do tipo. A sua ideia de uma representação do mundo português que envolva as suas vítimas, lhes dê VOZ e expressão é corajosa e exigirá uma sociedade portuguesa pronta e capaz para fazer a revisão desse passado. A sua referência a algumas atrocidades historicamente atribuídas a Vasco da Gama vai exigir da minha parte alguma pesquisa adicional, pois confesso a minha ignorância quanto a essa dimensão mais obscura da gesta de Gama.

Se O Meu Amante de Domingo já tinha sido um verdadeiro murro no estômago, o Deus-dará acompanhado da entrevista ao DN (link aqui) adquire outro significado.

Sinto falta das crónicas da Alexandra no Público. A interrupção da sua colaboração com o jornal terá sido um simples fim de contrato, ponto. Ou terá sido mais qualquer coisa a ferir as suscetibilidades do Diretor David Dinis e de seus amos?

Tenho as minhas desconfianças.

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