segunda-feira, 21 de agosto de 2017

ROLA A BOLA





Desde a célebre rábula de Herman José sobre a arte comunicacional do treinador Professor Manuel Machado, passando pela forma galharda como ele aguentou em tempos a falta de educação do Jorge Jesus ainda no SLB e lhe devolveu com luva branca essa deselegância para com um colega de profissão com tréguas serenas, tenho uma especial afeição pela personalidade e imagem de Manuel Machado. Gosto de desalinhados e Machado parece de outro mundo que não o do futebol. Gostava de ser mosca para assistir em concreto como é que aquele desalinhamento comunica com o grupo. Por isso, não falto à chamada a qualquer tomada de posição do Professor.

Este fim de semana, quando após a derrota do seu Moreirense com o FCP de Conceição por 3-0, um jornalista novato resolveu perguntar-lhe se não achava o resultado pesado, o Professor passou-se dos carretos e respondeu-lhe se com uma diferença de orçamento de 3,5 milhões de euros (o do Moreirense) para os cerca de 80 milhões do FCP se ele achava que o resultado era pesado. E porfiou na arremetida proferindo que o campeonato estava com tamanha assimetria condenado ao desinteresse provavelmente e uma luta a três, embora por agora o Rio Ave, com um misterioso Miguel Cardoso, a querer intrometer-se.

Claro que se podia contrapor: mas o Moreirense não ganhou ano passado a taça da Liga? Não será certamente a mesma equipa. Mas, pergunta-se, não foi sempre assim nos últimos dez anos? No fundo, bem lá no fundo, a coisa não tem sido substancialmente diferente de uma luta a três, a dois mais propriamente, admitindo que o Leão tem andado moribundo e com falta de pelo. Mas o que me parece é que a assimetria está este ano bem mais cavada do que o usual. Braga e Guimarães estão a milhas do que fizerem em anos anteriores, orçamento não perdoa. Na segunda metade da tabela joga-se mal, bem mal, apesar de ter visto um promissor Feirense-Tondela na primeira jornada, mas retirando essa faísca inicial, os jogos pelas transmissões que tenho visto são de morrer de sono.
A destruição do interesse da competição pode ter duas origens: ou vão suceder-se as grandes abadas e teremos goleadores bem posicionados na Europa, ou as equipas da segunda metade da tabela se fecham tanto que a consequência de resultados será mais do foro da lotaria do que propriamente da ciência de jogo.

Mas não estaremos a correr o risco da generalização à terceira jornada? Não estarei eu a fazer de jornalista novato? Mas Machado sabe o que diz.

E de facto uma Liga tão desigual arrisca-se a liquidar o espetáculo, até das transmissões televisivas pois encontrar nalguns jogos uma perspetiva de interesse e diversão convida os Diretores de Programação a ser mais exigentes. Uma transmissão dos distritais com pancada à mistura cumpriria melhor a função.

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