Desde a célebre rábula de
Herman José sobre a arte comunicacional do treinador Professor Manuel Machado,
passando pela forma galharda como ele aguentou em tempos a falta de educação do
Jorge Jesus ainda no SLB e lhe devolveu com luva branca essa deselegância para
com um colega de profissão com tréguas serenas, tenho uma especial afeição pela
personalidade e imagem de Manuel Machado. Gosto de desalinhados e Machado
parece de outro mundo que não o do futebol. Gostava de ser mosca para assistir
em concreto como é que aquele desalinhamento comunica com o grupo. Por isso, não
falto à chamada a qualquer tomada de posição do Professor.
Este fim de semana,
quando após a derrota do seu Moreirense com o FCP de Conceição por 3-0, um jornalista
novato resolveu perguntar-lhe se não achava o resultado pesado, o Professor
passou-se dos carretos e respondeu-lhe se com uma diferença de orçamento de 3,5
milhões de euros (o do Moreirense) para os cerca de 80 milhões do FCP se ele
achava que o resultado era pesado. E porfiou na arremetida proferindo que o
campeonato estava com tamanha assimetria condenado ao desinteresse provavelmente
e uma luta a três, embora por agora o Rio Ave, com um misterioso Miguel Cardoso,
a querer intrometer-se.
Claro que se podia
contrapor: mas o Moreirense não ganhou ano passado a taça da Liga? Não será
certamente a mesma equipa. Mas, pergunta-se, não foi sempre assim nos últimos dez
anos? No fundo, bem lá no fundo, a coisa não tem sido substancialmente diferente
de uma luta a três, a dois mais propriamente, admitindo que o Leão tem andado
moribundo e com falta de pelo. Mas o que me parece é que a assimetria está este
ano bem mais cavada do que o usual. Braga e Guimarães estão a milhas do que
fizerem em anos anteriores, orçamento não perdoa. Na segunda metade da tabela joga-se
mal, bem mal, apesar de ter visto um promissor Feirense-Tondela na primeira jornada,
mas retirando essa faísca inicial, os jogos pelas transmissões que tenho visto
são de morrer de sono.
A destruição do interesse
da competição pode ter duas origens: ou vão suceder-se as grandes abadas e teremos
goleadores bem posicionados na Europa, ou as equipas da segunda metade da tabela
se fecham tanto que a consequência de resultados será mais do foro da lotaria
do que propriamente da ciência de jogo.
Mas não estaremos a
correr o risco da generalização à terceira jornada? Não estarei eu a fazer de
jornalista novato? Mas Machado sabe o que diz.
E de facto uma Liga tão
desigual arrisca-se a liquidar o espetáculo, até das transmissões televisivas
pois encontrar nalguns jogos uma perspetiva de interesse e diversão convida os Diretores
de Programação a ser mais exigentes. Uma transmissão dos distritais com pancada
à mistura cumpriria melhor a função.
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