(Mas afinal o que
é isso de hiperglobalização? Quem dela fala nesses termos e com que pertinência?
Barry Eichengreen, Universidade
de Berkeley, parece inclinar-se nesse sentido…)
A newsletter da UBS, designada de UBS
Knowledge Network, publicou este mês de agosto (link aqui) uma curta mas incisiva
entrevista com Barry Eichengreen , Professor de Economia e de Ciência Política
na Universidade da Califórnia (Berkeley) a que importa dar a devida atenção. Eichengreen
é das vozes mais avisadas em tudo que diz respeito à economia internacional,
particularmente da dimensão monetária da globalização. A comparação que
Eichengreen fez da Grande Depressão de 1930 com a Grande Recessão de 2007-2008
na sua incontornável HALL OF MIRRORS
é, para mim, uma das mais lúcidas perspetivas sobre o abalo dos fins da década
de 2000 que o capitalismo sofreu.
Na entrevista que Barry
Eichengreen concede a Beat Siegenthaler da UBS fala-se de hiperglobalização, o
que exige alguma tomada de tempo para analisar o que significa. A hiperglobalização
representaria uma evolução extrema da economia mundial, essencialmente medida
por três indicadores: (i) o comércio mundial a crescer a taxas superiores à do
PIB mundial; (ii) os fluxos financeiros evoluiriam a um ritmo que excedesse o
crescimento económico mundial e (iii) as migrações internacionais cresceriam
também a ritmos superiores aos da economia mundial. Refira-se, em primeiro
lugar, que só em circunstâncias históricas mundiais muito particulares aqueles três
critérios foram simultaneamente cumpridos. Sabemos que as migrações
internacionais foram sempre o parente pobre da globalização a três dimensões. E
que só depois de 1980-90 a globalização financeira se desmultiplicou até dar
com os burros na água na crise de 2007.
Eichengreen é, assim,
positivo quanto à possibilidade da híper-globalização ter sido dominada. Aliás,
embora por razões diversas, nenhuma das três dimensões atrás referidas está a
evoluir segundo os hiper-padrões sugeridos por Eichengreen. Mas o economista americano mantém
a sua perspetiva positiva quanto à possibilidade da globalização evoluir de
forma mais equilibrada.
O obstáculo maior a essa
possibilidade parece residir em problemas de governação. O G-20, que constitui
segundo Eichengreen o bloco mais próximo do que poderia ser um governo da
globalização (ponto com que tendo a concordar), continua enredado nas contradições
que o advento do Trumpismo implicou. É curioso que o economista partilha a
ideia já aqui divulgada neste blogue de que Trump tende a assumir a posição
expressa pela última pessoa com que ele falou acerca de um qualquer assunto. Mas
uma gestão mais regulada dos rumos da globalização implicaria uma administração
dos seus ritmos, regras e condições consoante as necessidades de desenvolvimento
económico das economias dispostas a explorar esses novos rumos. O G-20 mostra
estar longe dessas condições, nem se vislumbra pensamento próximo desse bloco
que possa orientar essa gestão mais regulada.
Não seria, assim, tão positivo
como Eichengreen. Aceitando que os exageros da híper-globalização foram
contrariados pela própria dinâmica da crise de 2007-2008, subsistem problemas
de coordenação e de governança para as quais não existe nem pensamento nem sábios
dissuasores. Já quanto à Europa, Eichengreen está certo quanto ao impacto positivo
que o advento errático de Trump representou em termos de união de esforços.
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