sexta-feira, 25 de agosto de 2017

A HIPER-GLOBALIZAÇÃO EXISTE E TERÁ SIDO DOMINADA?




(Mas afinal o que é isso de hiperglobalização? Quem dela fala nesses termos e com que pertinência? Barry Eichengreen, Universidade de Berkeley, parece inclinar-se nesse sentido…)

A newsletter da UBS, designada de UBS Knowledge Network, publicou este mês de agosto (link aqui) uma curta mas incisiva entrevista com Barry Eichengreen , Professor de Economia e de Ciência Política na Universidade da Califórnia (Berkeley) a que importa dar a devida atenção. Eichengreen é das vozes mais avisadas em tudo que diz respeito à economia internacional, particularmente da dimensão monetária da globalização. A comparação que Eichengreen fez da Grande Depressão de 1930 com a Grande Recessão de 2007-2008 na sua incontornável HALL OF MIRRORS é, para mim, uma das mais lúcidas perspetivas sobre o abalo dos fins da década de 2000 que o capitalismo sofreu.

Na entrevista que Barry Eichengreen concede a Beat Siegenthaler da UBS fala-se de hiperglobalização, o que exige alguma tomada de tempo para analisar o que significa. A hiperglobalização representaria uma evolução extrema da economia mundial, essencialmente medida por três indicadores: (i) o comércio mundial a crescer a taxas superiores à do PIB mundial; (ii) os fluxos financeiros evoluiriam a um ritmo que excedesse o crescimento económico mundial e (iii) as migrações internacionais cresceriam também a ritmos superiores aos da economia mundial. Refira-se, em primeiro lugar, que só em circunstâncias históricas mundiais muito particulares aqueles três critérios foram simultaneamente cumpridos. Sabemos que as migrações internacionais foram sempre o parente pobre da globalização a três dimensões. E que só depois de 1980-90 a globalização financeira se desmultiplicou até dar com os burros na água na crise de 2007.

Eichengreen é, assim, positivo quanto à possibilidade da híper-globalização ter sido dominada. Aliás, embora por razões diversas, nenhuma das três dimensões atrás referidas está a evoluir segundo os hiper-padrões sugeridos por  Eichengreen. Mas o economista americano mantém a sua perspetiva positiva quanto à possibilidade da globalização evoluir de forma mais equilibrada.

O obstáculo maior a essa possibilidade parece residir em problemas de governação. O G-20, que constitui segundo Eichengreen o bloco mais próximo do que poderia ser um governo da globalização (ponto com que tendo a concordar), continua enredado nas contradições que o advento do Trumpismo implicou. É curioso que o economista partilha a ideia já aqui divulgada neste blogue de que Trump tende a assumir a posição expressa pela última pessoa com que ele falou acerca de um qualquer assunto. Mas uma gestão mais regulada dos rumos da globalização implicaria uma administração dos seus ritmos, regras e condições consoante as necessidades de desenvolvimento económico das economias dispostas a explorar esses novos rumos. O G-20 mostra estar longe dessas condições, nem se vislumbra pensamento próximo desse bloco que possa orientar essa gestão mais regulada.

Não seria, assim, tão positivo como Eichengreen. Aceitando que os exageros da híper-globalização foram contrariados pela própria dinâmica da crise de 2007-2008, subsistem problemas de coordenação e de governança para as quais não existe nem pensamento nem sábios dissuasores. Já quanto à Europa, Eichengreen está certo quanto ao impacto positivo que o advento errático de Trump representou em termos de união de esforços.

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