quinta-feira, 24 de agosto de 2017

CAMINHOS PERIGOSOS

(Inés Arrimadas, Ciudadans en Catalunya)
(Josep Lluís Trapero, Major dos Mossos d'Esquadra)


(A utilização dos trágicos acontecimentos das Ramblas (Barcelona) e Cambrils (Tarragona) como arma de arremesso da luta política em torno do independentismo catalão e do beco em que a proposta de referendo se transformou constitui um caminho perigoso que não favorece nem a segurança, nem a perspetiva catalã…)

O golpe jhiadista das Ramblas e de Cambrils, talvez precipitado pela falha cometida pela célula terrorista na moradia de Almanar, com as explosões de vasto material explosivo destinado a outras utilizações, caiu no pior momento político das relações entre Madrid e a Catalunha. As forças de segurança e de intervenção da Generalitat, os Mossos d’Esquadra aparentemente centralizaram todo o movimento que conduziu à morte e detenção de praticamente toda a célula terrorista. Mas, como é óbvio numa situação de tamanha tensão, face a essa ocupação do espaço mediático pelos Mossos d’Esquadra, dificilmente a gestão de tal tensão passaria incólume a eventuais problemas de coordenação entre forças.

O problema não está nessa possibilidade. O verdadeiro e perigoso problema é que a atuação da força de segurança regional passou rapidamente a ser matéria de jogo político, o que direi eu é tão trágico e lamentável como os próprios acontecimentos.

Por um lado, o foco na capacidade de resolução da detenção e eliminação dos elementos da célula jhiadista foi implicitamente utilizado pelo nacionalismo catalão como uma prova de fogo das suas capacidades de autonomia. Surgiram registos na imprensa espanhola de testemunhos da Polícia e da Guarda Civil de que terão sido marginalizados no desenvolvimento do processo.

Por outro lado, outros informadores têm passado a ideia de que a investigação desenvolvida pelos Mossos d’Esquadra teve falhas relevantes, agravadas com a revelação mais recente de que a polícia belga (também não propriamente conhecida pela sua celeridade e competência) foi informalmente informada da necessidade de compreender melhor a atuação do Imã de Ripoll.

Até a azougada líder da oposição à Generalitat, Inés Arrimadas, líder do Ciudadanos na Catalunha, não resistiu a entrar no jogo político, declarando que a atuação dos Mossos d’Esquadra mostra que a Catalunha não é uma colónia, como o independentismo catalão mais feroz costuma em regra invocar. Arrimadas, curiosamente, invocou a atuação das forças de segurança regionais para demonstrar que existe autogoverno na Catalunha, sendo por isso tola a ideia da independência.

São caminhos perigosos de um jogo político urdido com uma matéria que não pode estar à mercê deste tipo de ventos. Hoje, alguma sensatez foi reposta com a decisão da Audiência Nacional de colocar a segunda parte da investigação dos atentados de Barcelona e Cambrils sob a supervisão do Centro de Inteligência contra o Terrorismo e o Crime Organizado.

As redes sociais podem ter-se incendiado com a expressão “Bueno pues molt bé, pues adiós” proferida no fim de um encontro com os jornalistas pelo Major dos Mossos d’Esquadra Josep Lluís Trapero. Mas nestas questões do terrorismo, o campo não é de protagonismos, é de eficácia e coordenação. Por isso, colocar estas matérias no jogo político do independentismo catalão é uma oferta preciosa ao jhiadismo já radicalizado em Espanha.

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