sexta-feira, 11 de agosto de 2017

NA FRONTEIRA ENTRE A EUROPA E A ÁSIA (II)



Mais algumas impressões caucasianas. Hoje centro-as em curiosidades e em alguns elementos de ordem prática. Começo por uma indicação imprescindível a quem queira visitar a região e os três países que a compõem – o conflito em curso entre a Arménia e o Azerbaijão, um conflito complexo e muito presente nos dois países em torno da província de Nagorno-Karabakh (hoje encarada pela Arménia como um país não reconhecido internacionalmente e rebatizado como Artsakh, com capital em Stepanakert, e apontado como visitável em inteira segurança, com os azeris a falarem da mesma como um “território ocupado” e gerador de um milhão de refugiados e a remeterem para duas resoluções da ONU por cumprir), faz com que as suas fronteiras recíprocas estejam integralmente fechadas e, pior ainda, com que não seja fácil nem amigável a entrada no Azerbaijão quando se é detentor de um passaporte com carimbo de entrada na Arménia (há até o risco de apreensão de toda e qualquer lembrança de viagem que identifique uma origem arménia, sendo que a entrada é liminarmente vedada se houver qualquer evidência de passagem pelo território de Nagorno-Karabakh). A ordem dos fatores não é, pois, arbitrária nos roteiros turísticos que se pretendam construir e concretizar.

Já agora, e por falar em territórios, repare-se nos mapas acima como o do Azerbaijão está dividido entre um território principal e uma faixa integralmente separada do anterior (Nakhijevan, de seu nome) – a história que conduziu a esta inacreditável situação remontará aos tempos iniciais do bolchevismo e da adesão de todos estes países (e outros da zona envolvente em termos mais alargados) à União Soviética, embora os azeris lhe acrescentem alguns pontos acusatórios relativamente aos arménios.

Outro dado visível é o da diferença de perspetivas que se ouvem, sobretudo na Geórgia e na Arménia (já que o Azerbaijão está noutro patamar e tem sobretudo menos a ver com esta história), quanto a preferências por alinhamentos europeus ou russos dos respetivos países. Sintomaticamente, observa-se uma clara separação geracional, com os jovens a olharem mais para Ocidente (impressionante a importância atribuída pelos jovens georgianos ao acordo de 28 de março deste ano com a União Europeia e que lhes permite viajarem até nós sem visto – passou até a haver uma “European Square” em Tbilisi) e os mais velhos a dizerem-se, quase chocantemente, saudosos do período soviético.

Termino com mais meia dúzia de referências descontinuadas:
· as moedas nacionais (veja-se abaixo uma sugestiva imagem das menores notas de papel em curso em cada um dos três países em causa) são uma integral novidade, entre o lari georgiano (1 euro são menos de 3 laris), o dram arménio (1 euros são 550 drams) e o manat azeri (1 euro são menos de 2 manats);
· as estradas são genericamente fracas, sobretudo na Geórgia e na Arménia, o que é tanto mais grave quanto os motoristas tendem a ser marcados pela imprudência;
· é absolutamente incrível, e de enorme interesse, o património monumental e religioso disseminadamente presente naqueles dois países cristãos (sendo a catedral de Ejmiatsin o “Vaticano” da Igreja Apostólica da Arménia, onde se chama Katholikos ao respetivo Papa);
· estando-se na Geórgia é necessariamente incontornável uma visita à cidade natal de Estaline (Gori) e ao Museu instalado nos terrenos contíguos à sua casa;
· “O Bule” de Joana Vasconcelos está bem visível numa praça cheia de esculturas famosas localizada no centro de Yerevan (Centro de Arte ao Ar Livre de Gafesjian);
· no Azerbaijão, é também a não perder a cidade de Sheki (não muito distante da fronteira com a Geórgia) e, sobretudo, o seu imenso e belíssimo karvansaray (palácio de caravanas, um local de descanso para os mercadores e seus animais, especialmente ao longo da Rota da Seda) e a deliciosa e inconfundível piti (uma espécie de sopa de cordeiro) do restaurante Gagarin.


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