(Embora não haja
acordo sobre uma data que represente o marco do início da crise financeira de
2007, andará por esta semana
de agosto há 10 anos o desencadear de algo que não tendo o peso da crise de
1930 talvez do ponto de vista da perturbação subsequente tenha excedido tudo o
que poderíamos esperar …)
Stephen Ceccetti e Kermit Schoenholtz no Money &Banking (link aqui) assinam esta
semana uma excelente nota de efeméride sobre a crise financeira de 2007, cujo início
estará algures há dez anos nesta semana de agosto. A diversidade de datas e
eventos que associamos ao deflagrar da crise é significativa e a simples elencagem
de datas e eventos possíveis apresentada pelos autores é, por si só, indicação
de algo de sistémico, dada a diversidade sequencial de acontecimentos.
Ceccetti e Schenholtz escolhem o dia 7 de agosto que marca a decisão do BNP
Paribas de suspender reembolsos em três fundos mútuos, devido ao facto dos seus
analistas se mostrarem incapazes de valorar os ativos dos mesmos fundos. Desde abril
de 2006, data em que o índice compósito de Schiller (Nobel de Economia) de
preços de habitação ter atingido o seu pico até a acontecimentos que envolveram
o HSBC, a Freddie Mac, o Bear Sterns, o resgate do banco alemão IKB Bank, a
intervenção do Banco Central de Inglaterra no Northern Rock até à primeira intervenção
do Banco da Reserva Federal em dezembro de 2017, vivemos um galope de quedas,
resgates, defaults e outros termos que passaram a estar no alcance dos nossos
ouvidos.
Graças à efeméride dos autores, revisitei um artigo do Journal of Economic
Literature de 2012de Andrew Lo, que tinha esquecido nos meus registos digitais,
que analisou criticamente 21 obras centradas na tentativa de explicação da
crise, alguns dos quais desafiam o meu olhar no primeiro plano da estante,
pedindo uma revisita. A diversidade de explicações dessa recensão crítica das 21
obras é também, à sua maneira, um indicador de duas coisas: a dimensão e magnitude
das dimensões suscitadas pela crise e a perturbação que atravessou o universo
dos economistas, desde os mais renitentes que advogavam que seria mais um
ajustamento como tantos aos mais ousados que reclamavam uma nova macroeconomia.
Creio que ainda hoje o assunto espera uma teoria geral dos nossos tempos capaz
de produzir uma metaexplicação. Não temos hoje o equivalente de um Keynes que o
faça, talvez porque o conhecimento económico e a macro se especializaram tanto
em domínios tão específicos que não sobeja ninguém para ousar uma meta explicação.
Na data de 7 de agosto há 10 anos, o sistema financeiro estava demasiado frágil
para resistir a um choque daquela natureza. Não existe hoje acordo total se
essa fragilidade está totalmente suprimida ou se, pelo contrário, está aí ainda
expectante pela probabilidade de ocorrência de um choque similar ao de 2017,
apesar de alguns produtos de maquilhagem novos, que aparentemente renovaram a
resiliência do sistema.
Teremos provavelmente de saber viver com tal incerteza.
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