(À boleia de um
bem interessante artigo de Noah Smith para o Bloomberg View, o Japão emerge
como uma economia com evidências que interpelam a economia que ensinamos, sinal dos tempos …)
É de facto como a economia japonesa dos últimos 20 anos tem vindo
sistematicamente a questionar a economia que ensinávamos, e o que é mais
curioso com a nota de que a cada período a sua contradição com o estabelecido.
Nos anos 90, tal como Krugman então bem o assinalou, a economia japonesa anunciava
aos mais distraídos que a deflação podia ser uma realidade e que a chamada
armadilha da liquidez não deveria ser considerada um tema económico para
permanecer nas estantes.
Mais tarde, já no novo milénio, o governo japonês deu mostras de grande
coragem na cena internacional impondo uma política de despesa pública e fiscal
de natureza reflacionária, tentando superar os constrangimentos estruturais de
uma economia endemicamente habituada a poupar.
Mais perto do tempo de hoje, os japoneses continuam a dispor de taxas de
juro muito baixas, a sua dívida pública em percentagem do PIB continua
ascendente e bem lá no alto, sem que as anunciadas previsões inflacionárias se
confirmem. Para aumentar a estranheza, tal como Noah Smith o assinala (link aqui), o desemprego
está perfeitamente controlado, parece não haver constrangimentos ao emprego e, ainda
sim (ver gráfico acima) a inflação continua a não dar sinais de vida. As previsões
do Banco Central do Japão de que a sua meta de 2% para a variação dos preços
finalmente se aproxima têm sido sistematicamente diferidas no tempo e nem nos
assegura que não volte a acontecer.
É claro que com uma dívida pública deste tamanho, um cheirinho inflacionário
faria bem à economia japonesa. Mas a estranheza vem do facto de que apesar da não
inflação a economia japonesa tem visto o seu produto por pessoa empregada aumentar
sistematicamente e assegurar o crescimento do emprego.
Justifica-se a provocação de Noah Smith: saberemos nós, economistas, o que é
realmente a inflação e como funciona?
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