domingo, 6 de agosto de 2017

ESTUDEMOS O JAPÃO




(À boleia de um bem interessante artigo de Noah Smith para o Bloomberg View, o Japão emerge como uma economia com evidências que interpelam a economia que ensinamos, sinal dos tempos …)

É de facto como a economia japonesa dos últimos 20 anos tem vindo sistematicamente a questionar a economia que ensinávamos, e o que é mais curioso com a nota de que a cada período a sua contradição com o estabelecido.

Nos anos 90, tal como Krugman então bem o assinalou, a economia japonesa anunciava aos mais distraídos que a deflação podia ser uma realidade e que a chamada armadilha da liquidez não deveria ser considerada um tema económico para permanecer nas estantes.

Mais tarde, já no novo milénio, o governo japonês deu mostras de grande coragem na cena internacional impondo uma política de despesa pública e fiscal de natureza reflacionária, tentando superar os constrangimentos estruturais de uma economia endemicamente habituada a poupar.


Mais perto do tempo de hoje, os japoneses continuam a dispor de taxas de juro muito baixas, a sua dívida pública em percentagem do PIB continua ascendente e bem lá no alto, sem que as anunciadas previsões inflacionárias se confirmem. Para aumentar a estranheza, tal como Noah Smith o assinala (link aqui), o desemprego está perfeitamente controlado, parece não haver constrangimentos ao emprego e, ainda sim (ver gráfico acima) a inflação continua a não dar sinais de vida. As previsões do Banco Central do Japão de que a sua meta de 2% para a variação dos preços finalmente se aproxima têm sido sistematicamente diferidas no tempo e nem nos assegura que não volte a acontecer.

É claro que com uma dívida pública deste tamanho, um cheirinho inflacionário faria bem à economia japonesa. Mas a estranheza vem do facto de que apesar da não inflação a economia japonesa tem visto o seu produto por pessoa empregada aumentar sistematicamente e assegurar o crescimento do emprego.

Justifica-se a provocação de Noah Smith: saberemos nós, economistas, o que é realmente a inflação e como funciona?

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