Um Sábado muito quente de Agosto passado como nunca o fizera antes em dois grandes e completamente diversos ajuntamentos de pessoas, a convite de dois presidentes de Câmara do Alto Minho tão inexcedíveis na sua simpatia quanto dedicados e eficazes na sua ação política. Primeiro, assistindo rendido ao magnífico e extremamente bem organizado cortejo histórico-etnográfico da Romaria da Senhora da Agonia de Viana do Castelo (cidade que terá recebido cerca de um milhão de almas por estes dias de festa num ambiente de honra à tradição e de sadio orgulho bairrista). Depois, assistindo maravilhado ao extraordinário concerto de Benjamin Clementine no arrasador cenário do Festival de Paredes de Coura e na companhia de perto de trinta mil jovens (uma minoria só de espírito).
Em Viana, esteve em destaque o traje à vianesa – o primeiro a ser nacionalmente certificado e que assim se assume como um símbolo de identidade local, nas várias formas que vai tomando em função do momento e do estatuto social da mulher –, num desfile participado por três mil figurantes representando as 40 freguesias do concelho e contando com 33 carros alegóricos. No quadro de uma visível adesão e alegria popular, e por entre exibições impressionantes de bombos e múltiplos dotes musicais, destaque ainda para a distinção do porte e do pisar de tantos vultos femininos belissimamente vestidos, ornamentados e cobertos de ouro. E para a palavra de Pedro Homem de Mello, sempre repetidamente cantada:
“Se o meu sangue não me engana
Como engana a fantasia
Havemos de ir a Viana
Ó meu amor de algum dia”.
Em Coura, com ou sem paredes, esteve um artista enorme (não duvido de que também muitos outros, mas não os ouvi nem conheço a maioria). Benjamin entrou em palco descalço, sentou-se ao piano e começou a tocar acompanhado por um coro de vozes femininas e pelo som de um cravo. A dada altura do concerto, disse achar que não precisava de tocar mais o novo álbum e voltou atrás para nos proporcionar uma volta pelo anterior (“At Least for Now”). Começou então por “Condolence”, tema que transformou num momento de forte interação com o público quando pediu que se apagassem todas as luzes em palco e sugeriu ao público “cantar as condolências ao medo e às inseguranças” (conforme o refrão da música), dizendo: “Parece que fomos feitos para ter medo, mas não vamos ter medo! Fechem os olhos e cantem!”. Terminou com “Adios”, confidenciando aí que às vezes vê anjos – “Porque os anjos cantam, sabem?” – e que apenas tenta imitá-los para depois sair elogiosamente de cena com aquele “acho que já vi anjos que cheguem por hoje”.
Um dia daqueles...
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