(À medida que os
casos GALP, HUAWEI e sabe-se lá que mais interligações perigosas entre o público
e o privado estarão por aí a aparecer, mais se me forma a ideia de que muita gente perdeu a noção dos limites
entre aquelas duas esferas, talvez pela transumância de experiências entre os
dois lados…)
Primeiro, foram uns
quadros políticos e membros do Governo que não resistiram ao fervor patriótico
de ver a seleção na sua saga por terras de França, e face a um patriotismo tão
fervoroso que significado tem aceder a uma borla de uma grande empresa
portuguesa? Reações sintomáticas de surpresa, talvez a pensar num outro código ético
qualquer e, principalmente, pensando lá para os seus botões que porra sempre era
a Seleção.
Agora, uns quadros superiores
de uma entidade designada de serviços partilhados do Ministério da Saúde,
imagina-se que com influência nas compras de equipamentos para os serviços do
Ministério, cederam ao canto da HUAWEI e tiveram uma viagem, não sei se também
a estadia, paga pelo conglomerado chinês. Entre outras visitas, a imprensa
falou de uma grande instituição chinesa de medicina on line, uma das maiores do mundo, equipada com material HUAWEI. Dirão
alguns, apenas uma despretensiosa visita de estudo, necessária para alargar as
vistas de quem tem tomar de decisões e precisa de estar informado. Resultado, cinco
demissões entre esses altos quadros e o Ministro da Saúde aguarda os resultados
do inquérito da Procuradoria-Geral da República (todos esperam pelos inquéritos
judiciais para tomar posição, será um novo código de conduta para os Ministros?).
Por esta aragem, os
neologismos vão suceder-se na língua portuguesa: “galpização”, “huaweização”, “vodafonização”,
“microsoftização” e tantas outras que estarão na próxima esquina de um
procurador mais atento. Fala-se também de deputados apanhados na bondade da
HUAWEI, certamente cientes de que defenderiam os interesses dos seus eleitores
que têm telemóveis da marca.
A interpenetração entre
a coisa pública e o setor privado calou tão fundo, a transumância entre as duas
esferas tem sido tão intensa e as relações entre estruturas de governação e exercício
de funções privadas são tão intensas e diversificadas que pelo andar da
carruagem o tema inspirador deste blogue corre sérios riscos de por ninguém ser
entendido. Eu, que trabalho em empresas privadas há mais de 30 anos e teimo em afirmar
que isso não tolhe o meu discernimento relativamente o que cabe ao privado e ao
público fazerem, começo a pressentir que a vida pode tornar-se um inferno para
quem pretende assumir esse pensamento trabalhando num ou noutro lado. As relações
entre o público e o privado necessitam urgentemente de um novo código ético e
este blogue estará sempre ao lado dos que nele estão interessados.
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