domingo, 13 de agosto de 2017

ABSTÉMIOS E NACIONALISMO

(O espantoso traço de Eva Vásquez para o El País)


(Fernando Savater, filósofo e escritor espanhol bem conhecido, principal animador da grande revista que é a Claves, tem vindo a destacar-se pela sua crítica feroz dos nacionalismos regionais em Espanha, primeiro no País Basco e depois na Catalunha, o que situa bem a importância do seu provocador artigo de hoje no El País  …)

Savater tem sido um crítico duro dos independentistas bascos e agora tomando partido claro pela denúncia do nacionalismo catalão independentista, sempre com o argumento da violência democrática que tais movimentos representam do ponto de vista dos que sentem espanhóis a viver no País Baco ou na Catalunha. O seu artigo de hoje no El País (link aqui) assume o mesmo registo, mas por outras vias, elegendo um grupo de intelectuais a quem designa provocatoriamente de abstémios.

Vale a pena seguir o argumento.

Savater situa os abstémios em dois grupos. Os que o são por decisão racional de privação de um certo prazer, a bebida por exemplo, por razões de incomodidade, conselho médico ou outro qualquer motivo dessa natureza. E há os que, sendo abstémios, justificam a sua opção por considerarem a bebida a fonte de todos os males deste mundo em termos de vida social. É com base neste último e irritante grupo que Savater faz a analogia com o nacionalismo e reação ao mesmo. Abstémios seriam neste caso os que rejeitam o fervor nacionalista porque consideram a ideia de nação como incompatível com os seus “espíritos superiores”. É gente que nunca se sentiu espanhol, basco ou catalão, talvez em privado possam expressar alguma afetividade para com a Nação, mas publicamente é posição que nunca reclamam ou expressam. Segundo Savater, o que estes abstémios pretendem é evitar a sua colagem à gente de direita, porque (citando) “ser de esquerda é optativo, mas não parecer de direitas é obrigatório”. A metáfora final condensa toda a provocação: “mas afinal o que querem os abstémios a não ser água para lavar as mãos do que se passa?”

Nos meus registos de impressões, de notas, de registos e de toda a documentação sobre os nacionalismos numa Espanha das nações, tinham-me escapado estes abstémios. Savater situa-se entre aqueles espanhóis que pensam que a democracia e a liberdade exigem o estado de direito e os símbolos nacionais que o materializam. É o seu pensamento, não o esconde, e está no seu direito democrático e a sua experiência de perseguição sofrida no País Basco é um bom argumento a seu favor. Mas, lendo o artigo calmamente pela manhã na esplanada da praça em Seixas, desfrutando de uma nesga de agosto fervilhante, dei comigo a pensar se vivesse em Espanha se seria ou não um abstémio do tipo dos de Savater. Acho que não. Mas revendo-me na ideia de Espanha das nações como única via credível de ultrapassar a crise de identidade em Espanha, pergunto-me em que tipologia de Savater cairia.

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