(O espantoso traço de Eva Vásquez para o El País)
(Fernando Savater,
filósofo e escritor espanhol bem conhecido, principal animador da grande revista que é a
Claves, tem vindo a destacar-se pela sua crítica feroz dos nacionalismos regionais
em Espanha, primeiro no País Basco e depois na Catalunha, o que situa bem a importância do seu
provocador artigo de hoje no El País …)
Savater tem sido um crítico duro dos independentistas bascos e agora tomando
partido claro pela denúncia do nacionalismo catalão independentista, sempre com
o argumento da violência democrática que tais movimentos representam do ponto de
vista dos que sentem espanhóis a viver no País Baco ou na Catalunha. O seu
artigo de hoje no El País (link aqui) assume o mesmo registo, mas por outras vias, elegendo
um grupo de intelectuais a quem designa provocatoriamente de abstémios.
Vale a pena seguir o argumento.
Savater situa os abstémios em dois grupos. Os que o são por decisão
racional de privação de um certo prazer, a bebida por exemplo, por razões de
incomodidade, conselho médico ou outro qualquer motivo dessa natureza. E há os que,
sendo abstémios, justificam a sua opção por considerarem a bebida a fonte de todos
os males deste mundo em termos de vida social. É com base neste último e irritante
grupo que Savater faz a analogia com o nacionalismo e reação ao mesmo. Abstémios
seriam neste caso os que rejeitam o fervor nacionalista porque consideram a
ideia de nação como incompatível com os seus “espíritos superiores”. É gente
que nunca se sentiu espanhol, basco ou catalão, talvez em privado possam expressar
alguma afetividade para com a Nação, mas publicamente é posição que nunca reclamam
ou expressam. Segundo Savater, o que estes abstémios pretendem é evitar a sua
colagem à gente de direita, porque (citando) “ser de esquerda é optativo, mas não parecer de direitas é obrigatório”.
A metáfora final condensa toda a provocação: “mas afinal o que querem os abstémios a não ser água para lavar as mãos do
que se passa?”
Nos meus registos de impressões, de notas, de registos e de toda a
documentação sobre os nacionalismos numa Espanha das nações, tinham-me escapado
estes abstémios. Savater situa-se entre aqueles espanhóis que pensam que a
democracia e a liberdade exigem o estado de direito e os símbolos nacionais que
o materializam. É o seu pensamento, não o esconde, e está no seu direito democrático
e a sua experiência de perseguição sofrida no País Basco é um bom argumento a
seu favor. Mas, lendo o artigo calmamente pela manhã na esplanada da praça em Seixas,
desfrutando de uma nesga de agosto fervilhante, dei comigo a pensar se vivesse
em Espanha se seria ou não um abstémio do tipo dos de Savater. Acho que não.
Mas revendo-me na ideia de Espanha das nações como única via credível de
ultrapassar a crise de identidade em Espanha, pergunto-me em que tipologia de
Savater cairia.
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