Quase uma semana depois e ainda aqui não me pronunciei sobre a grande entrevista do primeiro-ministro ao “Expresso” – uma boa entrevista, na minha leitura, ainda que com alguns pequenos elementos a darem aso a dúvidas ou reservas. Comecei por achar, à luz das afirmações de António Costa (AC), completamente insustentada, e até especulativa – os jornalistas são realmente incorrigíveis! –, a ideia de que AC estaria a desafiar o PSD para um pacto pós-autárquico e, por maioria de razão, para protagonizar um novo ciclo de alianças políticas de incidência governamental. Depois, gostei especialmente da ideia de “preparar o debate para o Portugal pós-2020 e uma estratégia de médio prazo de crescimento e convergência sustentável com a UE” – não obstante o Diabo se esconder sempre nos detalhes e não me terem ficado claros os termos principais do que AC pensa sobre a dita matéria (seja quanto à sua hierarquia de prioridades ou quanto às grandes obras públicas que pretende). Também apreciei positivamente alguns sinais indicativos de um posicionamento europeu proactivo, como o da defesa de um casamento inteligente dos fundos estruturais com os instrumentos de coordenação das políticas económicas, designadamente o semestre europeu. No plano interno, AC tentou mostrar-se confiante e senhor dos assuntos perante a sucessão de desgraças e aselhices que lhe têm caído em cima, embora nem sempre tenha conseguido ser perentório e convincente (da modernização do Estado à Proteção Civil, do SIRESP ao relacionamento com o Presidente da República, das sondagens ao tipo de solução governativa, do Sistema Financeiro ao crédito e ao financiamento da economia, da energia ao mar...). Em resumo, talvez a entrevista possível de um primeiro-ministro maduro e consciente do seu atual e insubstituível papel na sociedade portuguesa, mas também sabedor de que terá de passar incólume, e de algum modo na defensiva, por esta conjuntura em que se vem deparando com inúmeros tipos de dificuldades conjugadas.
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