(A farsa que se
desenvolveu até à dissolução por parte de TRUMP do seu conselho de CEO de
grandes empresas americanas que aparentemente o assessoravam sob consulta do
Presidente é bem
elucidativa do estado caótico em que a administração americana está mergulhada
e do sistema de valores que vai grassando pelos big CEO …)
Dizia há dias uma arguta observadora política num
programa da CNN que a SIC Notícias transmitiu que havia evidências seguras de
que o esgrouviado e caótico Presidente exprimia a sua opinião em função do último
contacto ou briefing que alguém na Casa Branca lhe transmitira. Imagina-se o
estado caótico que uma Presidência desta laia estará a provocar na corte mais
próxima do Presidente. Simultaneamente, para os jornalistas mais curiosos abre-se
uma nova frente de investigação, com quem na Casa Branca terá estado o
Presidente antes de uma sua declaração ou Tweet? Desconhece-se se a chegada do
General disciplinador ao staff de Trump terá alterado esta suposta evidência.
Por extensão de raciocínio, pode admitir-se que a mais
recente oscilação de Trump acerca da violenta manifestação que a
extrema-direita supremacista e racista promoveu em Charlottesville, Virgínia,
terá resultado de contactos imediatos com diferentes personagens da Casa da
Branca ou da sua entourage de confiança, a ponto de praticamente se ter
colocado ao supremacismo, depois ter condenado e finalmente lavado as mãos. A
cumplicidade do partido Republicano com este estado de coisas, também ele
abalado nas suas convicções mais profundas desde que o Tea Party ganhou a
dianteira entre as suas fileiras é das coisas mais vergonhosas que alguma vez
se poderia imaginar poder acontecer nos EUA. A posição dos dois Presidentes
Bush, pai e filho, é sintomática dessa incomodidade.
A caminhar também para uma farsa de péssima qualidade
podemos falar também do American Manufacturing Council que funcionava junto de
Trump e que reunia uma trintena de CEO de grandes empresas. As primeiras baixas
neste Conselho aconteceram quando Trump decidiu não respeitar o compromisso da
administração Obama acerca dos acordos de Paris respeitantes às mudanças climáticas.
A posição inacreditavelmente tortuosa de Trump relativamente ao supremacismo rácico
de Charlottesville tenderia em princípio a provocar mais deserções. Ken Frasier,
um CEO afro-americano responsável pelo gigante da farmacêutica Merck foi o
primeiro a tomar essa decisão, sendo espantoso que outras deserções não se
tivessem seguido em série acelerada. Lawrence Summers (link aqui e aqui)) interroga-se justamente
em que ponto estará o sistema de valores que gerem as grandes empresas
americanas, sendo legítimo perguntar que barbaridades terá que Trump cometer para
os CEO acordarem e assumirem que o Presidente é má companhia. É uma boa
pergunta e é algo que ajuda a compreender a degradação moral dos negócios. As
desculpas que giram em torno de possíveis retaliações de Trump ainda são mais
lesivas da dignidade moral do que permanecer calados perante tanta alarvidade
profundamente atentatória dos princípios de constituição da Nação americana.
Receando talvez a multiplicação de mais deserções, Trump
acabou por dissolver o grupo de CEO conselheiros. Não deixa de ser
provocatoriamente estranho que uma administração que se apresenta com um
programa de redução de impostos claramente beneficiando os mais ricos e de
desmantelamento de procedimentos regulatórios invocando a eficiência esteja a
provocar ondas tão alteradas entre o ambiente empresarial americano, apesar da
falta de coragem de muitos deles.
A degradação do personagem Trump é tão grotesca que
provavelmente ninguém arriscará traçar um horizonte futuro para decisões de
investimento. O que é precisamente o oposto do que a economia mundial hoje
necessita, já hoje mergulhada num ambiente de profunda incerteza.
O que virá a seguir em termos do grotesco exercício
presidencial?
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