sexta-feira, 18 de agosto de 2017

A FARSA DOS CEO COM TRUMP


(A farsa que se desenvolveu até à dissolução por parte de TRUMP do seu conselho de CEO de grandes empresas americanas que aparentemente o assessoravam sob consulta do Presidente é bem elucidativa do estado caótico em que a administração americana está mergulhada e do sistema de valores que vai grassando pelos big CEO …)

Dizia há dias uma arguta observadora política num programa da CNN que a SIC Notícias transmitiu que havia evidências seguras de que o esgrouviado e caótico Presidente exprimia a sua opinião em função do último contacto ou briefing que alguém na Casa Branca lhe transmitira. Imagina-se o estado caótico que uma Presidência desta laia estará a provocar na corte mais próxima do Presidente. Simultaneamente, para os jornalistas mais curiosos abre-se uma nova frente de investigação, com quem na Casa Branca terá estado o Presidente antes de uma sua declaração ou Tweet? Desconhece-se se a chegada do General disciplinador ao staff de Trump terá alterado esta suposta evidência.

Por extensão de raciocínio, pode admitir-se que a mais recente oscilação de Trump acerca da violenta manifestação que a extrema-direita supremacista e racista promoveu em Charlottesville, Virgínia, terá resultado de contactos imediatos com diferentes personagens da Casa da Branca ou da sua entourage de confiança, a ponto de praticamente se ter colocado ao supremacismo, depois ter condenado e finalmente lavado as mãos. A cumplicidade do partido Republicano com este estado de coisas, também ele abalado nas suas convicções mais profundas desde que o Tea Party ganhou a dianteira entre as suas fileiras é das coisas mais vergonhosas que alguma vez se poderia imaginar poder acontecer nos EUA. A posição dos dois Presidentes Bush, pai e filho, é sintomática dessa incomodidade.

A caminhar também para uma farsa de péssima qualidade podemos falar também do American Manufacturing Council que funcionava junto de Trump e que reunia uma trintena de CEO de grandes empresas. As primeiras baixas neste Conselho aconteceram quando Trump decidiu não respeitar o compromisso da administração Obama acerca dos acordos de Paris respeitantes às mudanças climáticas. A posição inacreditavelmente tortuosa de Trump relativamente ao supremacismo rácico de Charlottesville tenderia em princípio a provocar mais deserções. Ken Frasier, um CEO afro-americano responsável pelo gigante da farmacêutica Merck foi o primeiro a tomar essa decisão, sendo espantoso que outras deserções não se tivessem seguido em série acelerada. Lawrence Summers (link aqui e aqui)) interroga-se justamente em que ponto estará o sistema de valores que gerem as grandes empresas americanas, sendo legítimo perguntar que barbaridades terá que Trump cometer para os CEO acordarem e assumirem que o Presidente é má companhia. É uma boa pergunta e é algo que ajuda a compreender a degradação moral dos negócios. As desculpas que giram em torno de possíveis retaliações de Trump ainda são mais lesivas da dignidade moral do que permanecer calados perante tanta alarvidade profundamente atentatória dos princípios de constituição da Nação americana.

Receando talvez a multiplicação de mais deserções, Trump acabou por dissolver o grupo de CEO conselheiros. Não deixa de ser provocatoriamente estranho que uma administração que se apresenta com um programa de redução de impostos claramente beneficiando os mais ricos e de desmantelamento de procedimentos regulatórios invocando a eficiência esteja a provocar ondas tão alteradas entre o ambiente empresarial americano, apesar da falta de coragem de muitos deles.

A degradação do personagem Trump é tão grotesca que provavelmente ninguém arriscará traçar um horizonte futuro para decisões de investimento. O que é precisamente o oposto do que a economia mundial hoje necessita, já hoje mergulhada num ambiente de profunda incerteza.

O que virá a seguir em termos do grotesco exercício presidencial?



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