quinta-feira, 17 de agosto de 2017

ESPECTADORES IMPARCIAIS?




(À boleia do sempre sugestivo Timothy Taylor, aqui fica uma deliciosa passagem do Adam Smith da Teoria dos Sentimentos Morais, centrada no tema dos “espectadores imparciais” cuja viabilidade de existência é cada vez mais problemática nos tempos que correm…)

Comecemos pela citação:

"(…) A animosidade das fações hostis, civis ou religiosas, é frequentemente ainda mais furiosa do que a expressada por nações hostis, e a sua conduta para com uma outra é ainda mais atroz. … Numa nação furiosa por movimentos de fação, existem sempre, não há dúvida, alguns, embora regra geral muito poucos, que preservam o seu juízo preservado do contágio geral. Abrangem raramente não mais, aqui e ali, do que um indivíduo solitário sem qualquer influência, excluído, pela sua própria candura, da confiança de qualquer outro personagem, e que, ainda que possa ser um dos mais sábios, é necessariamente, unicamente por este motivo, um dos homens mais insignificantes na sociedade. Todas estas pessoas são dadas ao desprezo e à repulsa pelos furiosos contendores de ambas as partes. Um verdadeiro homem que toma partido odeia e despreza a candura e, na realidade, não há vício que o desqualifique tanto para o comércio de um homem que toma partido como esta virtude. O espectador real, venerado e imparcial está na generalidade das ocasiões a uma maior distância do que no âmago da violência e da raiva entre as partes em disputa. Para eles, pode dizer-se que uma tal escassez de espectadores existe no universo por toda a parte. Mesmo à luz do grande Juiz do universo, eles imputam todos os seus próprios preconceitos e encaram frequentemente o Ser Divino como se estivesse animado por todas as suas vingativas e implacáveis paixões, De todos os corruptores dos sentimentos morais, o faciosismo e o fanatismo são, por isso, os maiores."

Adam Smith, 1759, Theory of Moral Sentiments (Livro III, capítulo 1, parágrafo 85 da Library of Economics and Liberty website.

Ocorreu-me que a relevância desta passagem, para além de todo o seu enquadramento filosófico e moral, que nos levaria bem longe, pode constituir um bom enquadramento das dificuldades de mediação séria no conflito sírio que, no post anterior, a referência à entrevista do diplomata Paulo Sérgio Pinheiro colocava em relevo.

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