(À boleia do
sempre sugestivo Timothy Taylor, aqui fica uma deliciosa passagem do Adam Smith
da Teoria dos Sentimentos Morais, centrada no tema dos “espectadores imparciais” cuja viabilidade de existência
é cada vez mais problemática nos tempos que correm…)
Comecemos pela citação:
"(…) A animosidade das fações hostis, civis ou religiosas, é
frequentemente ainda mais furiosa do que a expressada por nações hostis, e a sua
conduta para com uma outra é ainda mais atroz. … Numa nação furiosa por
movimentos de fação, existem sempre, não há dúvida, alguns, embora regra geral
muito poucos, que preservam o seu juízo preservado do contágio geral. Abrangem
raramente não mais, aqui e ali, do que um indivíduo solitário sem qualquer
influência, excluído, pela sua própria candura, da confiança de qualquer outro
personagem, e que, ainda que possa ser um dos mais sábios, é necessariamente,
unicamente por este motivo, um dos homens mais insignificantes na sociedade. Todas
estas pessoas são dadas ao desprezo e à repulsa pelos furiosos contendores de ambas
as partes. Um verdadeiro homem que toma partido odeia e despreza a candura e,
na realidade, não há vício que o desqualifique tanto para o comércio de um
homem que toma partido como esta virtude. O espectador real, venerado e imparcial
está na generalidade das ocasiões a uma maior distância do que no âmago da violência
e da raiva entre as partes em disputa. Para eles, pode dizer-se que uma tal
escassez de espectadores existe no universo por toda a parte. Mesmo à luz do grande
Juiz do universo, eles imputam todos os seus próprios preconceitos e encaram frequentemente
o Ser Divino como se estivesse animado por todas as suas vingativas e implacáveis
paixões, De todos os corruptores dos sentimentos morais, o faciosismo e o
fanatismo são, por isso, os maiores."
Adam Smith, 1759, Theory of Moral Sentiments (Livro III,
capítulo 1, parágrafo 85 da Library of Economics and Liberty website.
Ocorreu-me que a relevância desta passagem,
para além de todo o seu enquadramento filosófico e moral, que nos levaria bem
longe, pode constituir um bom enquadramento das dificuldades de mediação séria
no conflito sírio que, no post
anterior, a referência à entrevista do diplomata Paulo Sérgio Pinheiro colocava
em relevo.
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