(Um conjunto de
economistas americanos de largo espectro político e teórico pronunciam-se com
rara lucidez e baseados em evidência sobre a questão da imigração, matéria que os populismos de vária espécie e
de diferentes origens políticas têm cavalgado a toda a brida …)
O modo como os diferentes grupos sociais perceciona os efeitos dos fluxos
de migrações que entram no país, desde a migração turística (veja-se a por vezes
deslocada discussão sobre o alojamento local) aos migrantes que solicitam asilo
e proteção internacional, na sua variante mais dura da reinstalação (de indivíduos
provenientes de países terceiros à UE) e de recolocação (em Portugal provenientes
da Itália e Grécia, já que Portugal não recebe refugiados da Turquia) é matéria
combustível para o populismo. É fácil, com argumentos falsos ou desproporcionados,
influenciar a perceção da população mais securitária. A situação económica do
país em que a perceção se forma e sobretudo a dinâmica do seu mercado de
trabalho são variáveis decisivas.
Trata-se de uma matéria em que vozes competentes e honestas são cruciais
para ajudar a formar uma opinião pública. Nem sempre essas vozes se levantam ou
quando o fazem nem sempre são ouvidas, Todos nos lembramos do BREXIT e do jogo
sujo que foi feito com a questão dos refugiados e migrantes em geral. Vozes
esclarecidas e informadas não foram ouvidas.
Na América de TRUMP esta questão redobra de importância. O descaramento e a
mentira por TWEET são uma arma do populismo trumpiano. É nesse contexto que ensaio
a tradução para português de um documento assinado por um número significativo
de economistas americanos, de filiação partidária republicana ou democrata, de diferentes
orientações teóricas do liberalismo económico ao keynesianismo mais convicto. Esperemos
que sejam VOZES ouvidas:
“Caros Sr. Presidente, líder da
Maioria Mc Connel, líder da Minoria Schumer, Porta-voz Ryan e Líder da Minoria
Pelosi:
Os economistas abaixo assinados
representam um vasto espectro de perspetivas políticas e económicas. Entre nós
estão quer Republicanos, quer Democratas. Alguns de nós são a favor dos
mercados livres ao passo que outros defendem um papel mais interventivo do
governo na economia. Mas em algumas matérias há quase um consenso universal.
Uma dessas matérias prende-se com as preocupações relativas ao benefício económico
alargado que os imigrantes trazem a este país.
Na medida em que o Congresso e a
Administração se preparam para revisitar as leis de imigração, escrevemos para
expressar o nosso consenso alargado sobre a ideia de que a imigração representa
uma das significativas vantagens competitivas que a América apresenta na economia
global. Com as salvaguardas adequadas e necessárias a estabelecer, a imigração constitui
uma oportunidade e não uma ameaça para a nossa economia e para os trabalhadores
Americanos.
Vemos na imigração benefícios
variados:
- A imigração traz empresários que iniciam novos negócios que recrutam trabalhadores Americanos.
- A imigração traz-nos jovens trabalhadores que ajudam a compensar a vasta escala de baby-boomers que se reformam.
- A imigração traz-nos competências diversificadas que mantêm a nossa força de trabalho flexível, ajudam as empresas a crescer e aumentam a produtividade dos trabalhadores Americanos.
- Os imigrantes têm uma maior probabilidade de trabalharem em domínios inovadores e criadores de emprego, tais como a ciência, a tecnologia, a engenharia e as matemáticas que criam produtos que melhoram a qualidade de vida e impulsionam o crescimento económico.
A imigração tem também seguramente
custos, particularmente para os Americanos em certas indústrias com níveis educativos
mais baixos. Mas os benefícios que a imigração traz à sociedade mais do que
contrabalançam tais custos, e uma política de imigração inteligente pode maximizar
melhor os benefícios da imigração, reduzindo os seus custos.
Instamos o Congresso a
modernizar o nosso sistema de imigração de um modo que maximize a oportunidade
que a imigração pode proporcionar e a reafirmar a continuidade da riqueza da
história de acolhimento de imigrantes nos Estados Unidos.”
Dir-me-ão que são argumentos económicos. São economistas que escrevem, não
esqueçamos. Mas esta abordagem tem sentido pois o populismo rasteiro joga neste
campo de argumentação, falseando informação e evidência. Nenhum dos argumentos utilizados no manifesto é incompatível
com a perspetiva solidária de acolhimento da imigração.
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