(Manifestação anti-turismo numa praia de Barcelona)
(Tentando seguir
o meu colega de blogue, faço o esforço necessário para encontrar na sensaborona
luta eleitoral para as autárquicas no Porto algum motivo de interesse que justifique
algum tempo neste espaço, posso
entretanto dizer-vos que não é fácil, o que mostra a letargia das ideias políticas
por estas bandas…)
Pois é meus caros, alguns
protagonismos portuenses têm uma queda especial para a vitimização, clamam atenção
e, quando chegado o ciclo eleitoral e se abre algum espaço para fazer emergir
algumas ideias, a verdade é que parece que toda a gente esgota as suas energias
reivindicativas em cavalgar as expectativas criadas pelo Sérgio Conceição. Eu
sei que não sou propriamente um eleitor típico: vivendo em Gaia, trabalhando em
Matosinhos, consumindo alguma cultura e pouco o mais no Porto, não resta muita
matéria para a intervenção crítica. Mas, qualquer que seja o ponto de referência,
a preparação para as autárquicas é sensaborona. Senão vejamos: o Bloco apresenta
mais do mesmo, o PCP afina pelo mesmo diapasão com gente honesta e preocupada
mas que não traz nada de novo e o PS foi apanhado em contramão, sendo obrigado
a uma candidatura que manifestamente inicialmente não queria desenvolver. O PSD
escolhe um candidato daquela geração de economistas (como eu os conheço!) que
para se lhe perceber uma ideia, uma posição, um pronunciamento é necessário
muito porfiar e temos tudo menos motivação político-eleitoral. Mesmo o
movimento que Rui Moreira trouxe positivamente para a Cidade parece em posição “a
emissão segue dentro de momentos”, não sendo por agora percetível (espero que
me engane, para bem da pureza dos movimentos de independentes que estão hoje
por esse país fora embrulhados em tricas locais que não interessam a um cidadão
medianamente interventivo nas questões locais) qualquer ânimo inovador e de ambição
para um segundo mandato.
Dos temas que ressaltam da
envergonhada luta eleitoral a questão do turismo é a que merece alguma reflexão.
Têm aparecido por aí na opinião pública nacional, mais Lisboa e Porto diga-se, alguns
elitistas fedorentos e emproados rosnando contra os malefícios do turismo, tal
qual praga do Egipto de incalculáveis e devastadoras proporções. Não é um
movimento genuíno, como se neste reino os pudesse haver com peso para lá das
limitações do nosso território. É antes uma reação oportunista a notícias de
outras paragens. Já por repetidas vezes referi neste blogue que vejo nessas
reações uma corrente próxima do isolacionismo nacionalista com tudo o que pior
podemos associar a essa rejeição da proximidade para com e face ao outro. Valem
o que vale, não são mais do que a habitual incapacidade de muitos viverem numa
sociedade de massas em que as classes médias têm um verdadeiro significado. Para
mim são uma manifestação de elitismo fedorento e emproado que não terá lugar em
qualquer história, mesmo, como se dizia nos tempos da Revolução em Portugal, no
caixote do lixo da tecnocracia.
Isto não significa que,
mais do que o medo pela concentração e exaustão dos recursos, não estejamos que
estar atentos aos efeitos que a procura turística está a provocar na Cidade. Mas
é de regulação que estamos a falar, como se isso fosse novidade em relação a
outros efeitos perversos dos mecanismos de mercado. O efeito que merece mais
atenção futura é a da seguramente vertiginosa subida do preço do imobiliário
para renovação, tendo sempre na última e definitiva mira a questão da procura
turística. Julgo ter evidências de que o processo é já especulativo e que, por
exemplo, nos próximos tempos dificilmente um estudante a viver no Porto
encontrará arrendamento compatível. Estou em crer que, mais do que uma consequência
em termos de afastamento de quem reside na Cidade, pois estamos a falar de
unidades que estavam expectantes e sem ocupação, estaremos a falar de difícil
atração à Cidade de um perfil diversificado, e compatível com a cultura do
Porto, de residentes. É por isso de regulação de oferta e de política de taxação
de património imobiliário que deveríamos estar a falar. Mas isso não é novidade
e penso que um projeto reformista como o de Rui Moreira deveria preocupar-se
com essa regulação.
Já quanto ao Porto ser
apenas turismo ou mais qualquer coisa a crónica está nessa matéria algo
requentada. A força terciária do Porto foi atempadamente abalada pela centralização
orgânica de muitos grupos empresariais e financeiros que retirou à Cidade uma massa
importante de emprego e de quadros superiores. Os tempos da ilusão das empresas
portuguesas globais que Sócrates cavalgou, com o delírio instalado na PT e no
BES, foram madrastos para a Cidade, sobretudo porque no País não havia recursos
para a partilha territorial. Esse delírio foi um produto efémero diga-se da afirmação
da Capital. Para além disso, a Cidade já não concentra hoje toda a massa de
serviços que se articulava com as concentrações têxteis e vestuário e de metalomecânica
da coroa urbano-industrial que avança para o Ave, Cávado e Vale do Sousa. Esses
territórios conseguiram acolher alguma capacidade de oferta de serviços. Mais,
outros territórios têm conseguido apropriar investimentos que há 10 anos tenderíamos
a ver como necessariamente implantados na Área Metropolitana. É o caso, por exemplo,
da incubadora de empreendedorismo social, IRIS, financiada pelo BEI e que se localiza
… em Amarante. Finalmente, o conhecimento de base tecnológica que vai fazendo o
seu caminho na UPTEC (Asprela) demorará algum tempo (com taxas elevadas de
sucesso) a repercutir-se em ambientes de alguma densidade empresarial. Por
isso, o turismo equivale à história da ocupação do vazio, sempre que esse vazio
está claro. Como é o caso. O pior é que nos tempos que correm, sendo o turismo
uma atividade transacionável, a verdade é que o seu entorno é marcadamente
imobiliário e isso cheira aos anos 2000. Atenção pois.
Quanto ao tema metropolitano
como fonte de projetos político-eleitorais, há que o dizer com frontalidade,
que o PS ateou um fogo que não soube controlar à partida. Foi o PS, sem maioria
de convicções metropolitanas para isso e com origem creio que no ministro Eduardo
Cabrita, que lançou o tema das eleições diretas para as presidências das áreas
metropolitanas. Fê-lo sem compreender ou por pura despreocupação, o que é ainda
pior, o lio constitucional profundo em que se meteu com essa ideia. Por isso,
sem essa clarificação, dificilmente o tal projeto emergirá. O que não significa
que não haja matéria para isso. Se houver pachorra talvez possa haver
futuramente alguma reflexão no Interesse sobre essa matéria.
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