(O comportamento
da economia do Reino Unido nos dois primeiros trimestres de 2017 exige uma explicação
que certamente andará pelos temas do BREXIT, da austeridade autoimposta e até há
quem recorra a um novo termo, o LEXIT, mas também pelo reino de Sua Majestade circula o negacionismo das evidências…)
O comportamento da economia do Reino Unido na primeira metade do presente ano
é desapontador e não constitui um grande fator de confiança para Theresa May e
seus negociadores para enfrentar as duras negociações do BREXIT com as autoridades
comunitárias. Simon Wren-Lewis no Mainly Macro do passado dia 28 (link aqui) transforma estas
evidências numa espécie de combate entre os economistas e os defensores do BREXIT.
Este combate pode parecer uma desforra pelas evidências do presente face à
completa anulação em plena votação do BREXIT dos inúmeros avisos que economistas
diligentes e compenetrados na sua função de esclarecimento informado da opinião
pública. Sabemos que então a voz das elites foi completamente suplantada,
ignorada e até menosprezada com desdém. Aparentemente, a economia britânica está
a antecipar nas suas decisões, sobretudo de investimento, os efeitos e
incerteza que o BREXIT vai determinar, não sendo possível prever com exatidão
quem abandonará as terras de Sua Majestade para se dedicar a outros lugares,
nos quais seja possível continuar a trabalhar no ambiente a 27 da União. Mesmo
que esta esteja alquebrada e com quebra de mensagem de futuro, no plano económico
há inúmeros agentes que estão a rejeitar por antecipação.
Mas como o próprio Wren-Lewis o assinala, o comportamento da economia neste
semestre não pode ser também desligado da errada opção do governo conservador,
já desde os tempos de Cameron e Osborne, em prosseguir políticas de esmiframento
fiscal, conduzidas com a ambição ideológica de impor uma nova lógica de
serviços públicos, degradando-os objetivamente para os mais desfavorecidos e
estimulando por via da privatização os mais abastados a procurar nos sistemas
privados a excelência. O Partido Trabalhista tem-se destacado pela denúncia
desta errada opção do governo de May, errada atendendo sobretudo às baixas
taxas a que o governo britânico poderia endividar-se e ao poder de disposição
de moeda própria. O que é curioso é que o Labour tem rejeitado nas suas
explicações a explicação combinada do mau comportamento da economia envolvendo
a política de austeridade mas também o BREXIT nessa explicação. Essa evidência não
é acidental. O Labour continua a ter uma posição equívoca sobre o BREXIT, não
se sabe concretamente se por oportunismo eleitoral, se por convicção mais profunda.
Os especialistas em siglas rejubilaram, propondo um BREXIT pela esquerda (LEFT)
e daí o novo LEXIT (ver o artigo do próprio Wren-Lewis no Social Europe e
hoje, link aqui).
Pela combinação de efeitos da política de austeridade e de antecipação pelos
agentes económicos dos efeitos potenciais do BREXIT dá a sensação de que o “rei
vai nu”, não se sabendo se Sua Majestade terá disso consciência. Mas o “rei vai
nu” é neste caso estranhamente uma medida da voz baixa e pouco ouvida dos
economistas que não conseguem mostrar neste caso aos súbditos de Sua Majestade as
razões do mau comportamento da economia.
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