terça-feira, 1 de agosto de 2017

O REI VAI NU PELO REINO DE SUA MAJESTADE?



(O comportamento da economia do Reino Unido nos dois primeiros trimestres de 2017 exige uma explicação que certamente andará pelos temas do BREXIT, da austeridade autoimposta e até há quem recorra a um novo termo, o LEXIT, mas também pelo reino de Sua Majestade circula o negacionismo das evidências…)

O comportamento da economia do Reino Unido na primeira metade do presente ano é desapontador e não constitui um grande fator de confiança para Theresa May e seus negociadores para enfrentar as duras negociações do BREXIT com as autoridades comunitárias. Simon Wren-Lewis no Mainly Macro do passado dia 28 (link aqui) transforma estas evidências numa espécie de combate entre os economistas e os defensores do BREXIT. Este combate pode parecer uma desforra pelas evidências do presente face à completa anulação em plena votação do BREXIT dos inúmeros avisos que economistas diligentes e compenetrados na sua função de esclarecimento informado da opinião pública. Sabemos que então a voz das elites foi completamente suplantada, ignorada e até menosprezada com desdém. Aparentemente, a economia britânica está a antecipar nas suas decisões, sobretudo de investimento, os efeitos e incerteza que o BREXIT vai determinar, não sendo possível prever com exatidão quem abandonará as terras de Sua Majestade para se dedicar a outros lugares, nos quais seja possível continuar a trabalhar no ambiente a 27 da União. Mesmo que esta esteja alquebrada e com quebra de mensagem de futuro, no plano económico há inúmeros agentes que estão a rejeitar por antecipação.

Mas como o próprio Wren-Lewis o assinala, o comportamento da economia neste semestre não pode ser também desligado da errada opção do governo conservador, já desde os tempos de Cameron e Osborne, em prosseguir políticas de esmiframento fiscal, conduzidas com a ambição ideológica de impor uma nova lógica de serviços públicos, degradando-os objetivamente para os mais desfavorecidos e estimulando por via da privatização os mais abastados a procurar nos sistemas privados a excelência. O Partido Trabalhista tem-se destacado pela denúncia desta errada opção do governo de May, errada atendendo sobretudo às baixas taxas a que o governo britânico poderia endividar-se e ao poder de disposição de moeda própria. O que é curioso é que o Labour tem rejeitado nas suas explicações a explicação combinada do mau comportamento da economia envolvendo a política de austeridade mas também o BREXIT nessa explicação. Essa evidência não é acidental. O Labour continua a ter uma posição equívoca sobre o BREXIT, não se sabe concretamente se por oportunismo eleitoral, se por convicção mais profunda. Os especialistas em siglas rejubilaram, propondo um BREXIT pela esquerda (LEFT) e daí o novo LEXIT (ver o artigo do próprio Wren-Lewis no Social Europe e hoje, link aqui).

Pela combinação de efeitos da política de austeridade e de antecipação pelos agentes económicos dos efeitos potenciais do BREXIT dá a sensação de que o “rei vai nu”, não se sabendo se Sua Majestade terá disso consciência. Mas o “rei vai nu” é neste caso estranhamente uma medida da voz baixa e pouco ouvida dos economistas que não conseguem mostrar neste caso aos súbditos de Sua Majestade as razões do mau comportamento da economia.

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