(Confesso que sou
viciado na procura de metáforas a partir de eventos desportivos, e a medalha de ouro de Inês Henriques na neófita
prova dos 50 kms marcha aguça-me uma vez mais o apetite…)
A medalha de ouro de Inês Henriques nos mundiais de atletismo de Londres constituiu
uma real surpresa. A prova dá os seus primeiros passos e acredito que muito poucos
Portugueses estivessem informados de que a atleta portuguesa partia para
Londres com o melhor tempo mundial. Claramente menos mediática do que o também
medalhado Nélson Évora, um exemplo de persistência competitiva notável, que
gostaria de ter visto permanecer no SLB, a vitória de Inês encheu-me as medidas
e aguçou o apetite pelas metáforas sociais a partir do desporto.
Com a crueza e objetividade de quem tem força, resistência e ânimo para uma
preparação que conduza a estes resultados, Inês Henriques brindou o jornalista
Marco Vaza com esta bela frase:
“O que fiz é muito duro, mas o que a minha mãe faz todos os dias é muito
mais”
Exemplar afirmação. Inês Henriques é um dos
muitos resultados da espantosa resiliência com que um conjunto enorme de mulheres
portuguesas vive o seu dia-a-dia atribulado, duro que baste, sem cobertura mediática
e muitas vezes sem o conforto de uma retribuição, qualquer que seja a sua
natureza. Ao contrário de muitas medalhadas que, por contrapartida de uns minutos
retribuidores de mediatismo, rapidamente ignoram deliberadamente os contextos
de resiliência em que nasceram e cresceram, Inês Henriques não o fez. É seguramente
uma boa praça.
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