segunda-feira, 14 de agosto de 2017

SIMPLESMENTE INÊS




(Confesso que sou viciado na procura de metáforas a partir de eventos desportivos, e a medalha de ouro de Inês Henriques na neófita prova dos 50 kms marcha aguça-me uma vez mais o apetite…)

A medalha de ouro de Inês Henriques nos mundiais de atletismo de Londres constituiu uma real surpresa. A prova dá os seus primeiros passos e acredito que muito poucos Portugueses estivessem informados de que a atleta portuguesa partia para Londres com o melhor tempo mundial. Claramente menos mediática do que o também medalhado Nélson Évora, um exemplo de persistência competitiva notável, que gostaria de ter visto permanecer no SLB, a vitória de Inês encheu-me as medidas e aguçou o apetite pelas metáforas sociais a partir do desporto.

Com a crueza e objetividade de quem tem força, resistência e ânimo para uma preparação que conduza a estes resultados, Inês Henriques brindou o jornalista Marco Vaza com esta bela frase:

“O que fiz é muito duro, mas o que a minha mãe faz todos os dias é muito mais”

Exemplar afirmação. Inês Henriques é um dos muitos resultados da espantosa resiliência com que um conjunto enorme de mulheres portuguesas vive o seu dia-a-dia atribulado, duro que baste, sem cobertura mediática e muitas vezes sem o conforto de uma retribuição, qualquer que seja a sua natureza. Ao contrário de muitas medalhadas que, por contrapartida de uns minutos retribuidores de mediatismo, rapidamente ignoram deliberadamente os contextos de resiliência em que nasceram e cresceram, Inês Henriques não o fez. É seguramente uma boa praça.

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