domingo, 19 de fevereiro de 2017

ESTARÁ O INVESTIMENTO A MUDAR?




(O título é equívoco porque pode sugerir que é sobretudo a realidade nacional que desperta esta reflexão, mas não, neste caso e apesar de se esperar que finalmente o investimento dê por cá um ar da sua graça, são principalmente os sinais de mudança estrutural, observados a partir da economia americana, que justificam por hoje a nossa atenção…)

As sérias dificuldades que algumas economias avançadas têm experimentado em regressar a níveis de produto e de produtividade observados imediatamente antes da crise de 2007-2008 merecem seguramente uma explicação ampla e consistente. Mas sabemos que, qualquer que seja a amplitude dessa explicação necessária, o comportamento do investimento estará no centro dessa dificuldade. Por cá, longe das características das economias do G20 ou do G7 em particular, também a retoma da estabilidade do crescimento do investimento é esperada, neste caso estimando também que, finalmente após uma década de desencontros, investimento público e investimento empresarial privado consigam interagir virtuosamente.

Os dados que nos chegam da economia americana anunciam que os tempos vão diferentes em matéria de investimento. Tim Taylor, no Conversable Economist, tem uma peça extremamente informativa e sugestiva sobre o tema, colocando em evidência alguns sinais que anunciam grossas mudanças estruturais. Tais mudanças não são apenas de intensidade do investimento, medida em percentagem do PIB. Sabemos há muito que as economias avançadas ocidentais estão longe de poder competir com as verdadeiras máquinas de investimento em que as economias emergentes asiáticas se transformaram. Por exemplo, taxas de investimento entre 30 e 35% são comuns por aquelas paragens e nem assim se consegue escoar tanta capacidade de poupança que bate à porta do endividamento americano que financia os seus défices externos dessa maneira. Ora, em matéria de intensidade de investimento na economia americana estamos conversados. Taxas de investimento entre 14 e 16% do PIB já são ouro sobre azul e, nos últimos tempos, a economia americana tem ficado sistematicamente abaixo dos tais 14% (ver gráfico de abertura).


Mas, mais importante que esta última evidência, é o facto do investimento líquido (o que resulta de deduzirmos ao investimento bruto o valor que é necessário para repor a depreciação experimentada pelo capital fixo) representar a partir da década de 2000 uma menor percentagem do investimento bruto. A diferença não é pequena. O novo investimento representar 40% ou simplesmente 20% do investimento total não é de facto indiferente (ver gráfico acima). Por outras palavras, nos últimos anos, 80% do investimento total realizado é para substituir capital envelhecido e obsoleto, contabilisticamente falando.


 (In

Diane Whitmore Schanzenbach, Ryan Nunn, and Greg Nantz, “If You Build It: A Guide to the Economics of Infrastructure Investment”, The Hamilton Project 2017")

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Não sem surpresa, a economia americana enfrenta sérias necessidades de infraestruturas não financiadas, como o mostra o gráfico acima.

O imprevisível Trump, mais do que se preocupar em continuar o muro mexicano, terá muito que se entreter se quiser voltar-se para a renovação infraestrutural da economia americana

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