(O título é equívoco
porque pode sugerir que é sobretudo a realidade nacional que desperta esta reflexão,
mas não, neste caso e apesar de se esperar que finalmente o investimento dê por
cá um ar da sua graça, são
principalmente os sinais de mudança estrutural, observados a partir da economia
americana, que justificam por hoje a nossa atenção…)
As sérias dificuldades que algumas economias avançadas têm experimentado em
regressar a níveis de produto e de produtividade observados imediatamente antes
da crise de 2007-2008 merecem seguramente uma explicação ampla e consistente. Mas
sabemos que, qualquer que seja a amplitude dessa explicação necessária, o
comportamento do investimento estará no centro dessa dificuldade. Por cá, longe
das características das economias do G20 ou do G7 em particular, também a
retoma da estabilidade do crescimento do investimento é esperada, neste caso
estimando também que, finalmente após uma década de desencontros, investimento público
e investimento empresarial privado consigam interagir virtuosamente.
Os dados que nos chegam da economia americana anunciam que os tempos vão
diferentes em matéria de investimento. Tim Taylor, no Conversable Economist, tem uma peça extremamente informativa e sugestiva
sobre o tema, colocando em evidência alguns sinais que anunciam grossas mudanças
estruturais. Tais mudanças não são apenas de intensidade do investimento, medida
em percentagem do PIB. Sabemos há muito que as economias avançadas ocidentais
estão longe de poder competir com as verdadeiras máquinas de investimento em que
as economias emergentes asiáticas se transformaram. Por exemplo, taxas de investimento
entre 30 e 35% são comuns por aquelas paragens e nem assim se consegue escoar
tanta capacidade de poupança que bate à porta do endividamento americano que
financia os seus défices externos dessa maneira. Ora, em matéria de intensidade
de investimento na economia americana estamos conversados. Taxas de investimento
entre 14 e 16% do PIB já são ouro sobre azul e, nos últimos tempos, a economia
americana tem ficado sistematicamente abaixo dos tais 14% (ver gráfico de abertura).
Mas, mais importante que esta última evidência, é o facto do investimento líquido
(o que resulta de deduzirmos ao investimento bruto o valor que é necessário para
repor a depreciação experimentada pelo capital fixo) representar a partir da década
de 2000 uma menor percentagem do investimento bruto. A diferença não é pequena.
O novo investimento representar 40% ou simplesmente 20% do investimento total não
é de facto indiferente (ver gráfico acima). Por outras palavras, nos últimos anos,
80% do investimento total realizado é para substituir capital envelhecido e
obsoleto, contabilisticamente falando.
(In
Diane Whitmore Schanzenbach, Ryan Nunn, and Greg Nantz, “If You Build It: A
Guide to the Economics of Infrastructure Investment”, The Hamilton Project 2017")
"
Não sem surpresa, a economia americana enfrenta sérias necessidades de
infraestruturas não financiadas, como o mostra o gráfico acima.
O imprevisível Trump, mais do que se preocupar em continuar o muro mexicano,
terá muito que se entreter se quiser voltar-se para a renovação infraestrutural
da economia americana
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