(Tinha prometido
a mim próprio que mais algum comentário sobre a Caixa estaria fora das cogitações
deste espaço, mas a cacofonia
dos últimos dias justifica mais algumas palavras…)
A palavra, escrita, falada ou simplesmente sussurrada aos ouvidos de um jornalista
interessado em ter linha para a sua pesca lucrativa, é uma espécie de capital
de sobrevivência para o político que se preze. Os tempos estão propícios a esse
tipo de colheita. É como se a palavra representasse senha de presença. A Caixa, a nossa, não a dos espanhóis, La Caixa, é uma fonte
inesgotável de incontinências verbais e pelo que sei não foi ainda descoberta,
em democracia, o tipo de fraldinhas adequadas a conter tal insuficiência. Em
regimes autoritários há métodos menos recomendáveis para combater tal insuficiência.
A Caixa é uma fonte inesgotável de diz-se, diz-se, pois gente aparentemente
esclarecida, academicamente bem e superiormente formada, não tem na sua cabeça
bem sedimentada a diferença entre público e privado, e por isso, de calças na mão
face à situação criada, sujeita-se aos ditames de um guru como Domingues, estando
disposta a criar leis próprias para acomodar as pretensões do Deus da banca. Esta
cultura do serviço público está pela hora da morte e por este andar o tema
fundamental deste blogue, as relações entre o público e o privado correm o risco
de transformarem-se em simples arqueologia das ideias.
Um caldinho desta natureza é o paraíso para a incontinência verbal e, a pás
nas tantas, até o Presidente, que fala até cansar, é apanhado no remoinho da
incontinência.
E até Galamba, o impetuoso, vem à liça, os demónios soltaram-se, alinhando
com os PS que começam a dar sinais de impaciência com tanta proteção da Presidência,
talvez mais interessados em regressar à calma da decisão, cansados de tanta negociação
e contemplação à esquerda. Quantos são? Quantos são? Aparentemente não são
muitos mas os incontinentes verbais são naturalmente os primeiros a deixar
aliviar a pressão.
E, no meio de tal algazarra, com a oposição de direita a encontrar a brecha,
ou a presa, ideal para disfarçar a sua completa desorientação para tantas revisões
em alta e em baixa (do desemprego) que lhes exige uma explicação ou um simples
comentário, ninguém que me tenha apercebido fez uma pergunta incómoda. A
pergunta é esta: se a capitalização da Caixa, sem suscitar a necessidade de
ajudas de Estado, era assim tão difícil, que pergaminhos ou redes de relações
teria a equipa de Domingues em Bruxelas que terão determinado aquilo que foi
uma efetiva lança em África para o governo de Costa? Estaremos em presença de exímios
e poderosos negociadores capazes de conseguir o impossível? Pertencerão estes
senhores tão zelosos do secretismo do seu património a alguma rede de influências
transnacional, daquelas que efetivamente governam a Europa? E assim me quedo
com a curiosidade frustrada.
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