sábado, 4 de fevereiro de 2017

MAIS SOBRE O CAPITALISMO ESPANHOL

(Luis Tinoco, http://elpais.com)

Já que estamos com a mão na massa dos vizinhos aqui do lado, juntemos aos dados de ontem sobre a identidade dos ricos lá do sítio alguma informação complementar sobre a fotografia atual do capitalismo espanhol, analisada à luz das teias de participações e ligações percetíveis na sua bolsa de valores mobiliários – aqui com o registo mais notável de um controlo acionista de 42,3% das empresas cotadas por parte de investidores não residentes (contra 30,6% um quarto de século atrás) e com outros registos salientes a decorrerem das fortes quebras em termos de presença ativa das instituições financeiras e do Estado (reduzidas hoje a 3,6% e 2,9% do total, respetivamente, contra 15,6% e 16,6% em inícios da década de 90 do século passado), sendo estável o peso de 24,4% de mãos familiares, significativamente crescente o de empresas não financeiras (de 7,7 para 18,9%) e ligeiramente crescente o do chamado “investimento coletivo” (de 5% para 7,9%).

E quem são, no essencial, aqueles investidores estrangeiros cada vez mais relevantes em Espanha? Por um lado, trata-se de grandes sociedades gestoras de origem anglo-saxónica, com especialíssimo destaque (16,7 mil milhões de dólares) para a americana BlackRock (maior acionista dos bancos Santander e BBVA, com 5,07% e 5,09%, e detentora de 5,2% da Telefónica) mas também para a Vanguard (cerca de 9 mil milhões de dólares. designadamente 4,88% da DIA, 2,87% do BBVA e 1,5% da Inditex), a Fidelity (10% de Indra e 3,7% de Amadeus) e a Capital Group. Por outro lado, e em menor medida, observa-se também a presença de instituições europeias relevantes (como o Deutsche Bank, a Allianz ou a Lyxor do Grupo Société Générale). No que a fundos soberanos diz respeito, saliência para o norueguês (que é o maior à escala mundial, sendo gerido pelo Norges Bank Investment Management e estando presente com um total de 7,76 mil milhões de euros no capital de todas as empresas do Ibex 35 – nomeadamente, 3,17% da Iberdrola, 2,77% do BBVA, 1,77% do Santander, 1,39% da Telefónica e 1,24% da Repsol), para a Qatar Investment Authority (principal acionista da Iberdrola com 9,73% do capital e da holding de controlo da sociedade resultante da fusão Iberia-British Airways, participações atualmente estimadas em mais de 6 mil milhões de euros) e para o fundo de Singapura (detentor de 4,9% da Repsol).

Duas notas conclusivas sobre o Estado e as famílias. Quanto ao primeiro, hoje apenas conservando os já mencionados 2,9% do valor do Ibex, as suas participações com maior expressão estão no Bankia (65%), na Aena (51,6%), na Indra (20%), na Red Eléctrica (20%) e na Enagás (5%). Quanto às segundas, as principais menções são devidas aos 59,2% da Inditex detidos por Amancio Ortega ( avaliados em 58 mil milhões de euros), aos 54% da família Entrecanales na Acciona, aos 19,84% de Rafael del Pino na Ferrovial, aos 22,8% de Jaime Botín no Bankinter, aos 12,6% de Florentino Pérez na ACS, aos 51,9% da família Escarrer na Meliá, aos 37% de José Urrutia em Técnicas Reunidas e à diversificação acionista da família March (presente no capital de Acerinox, ACS, Indra e Viscofán, através da sua Corporación Financiera Alba); sem esquecer, obviamente, os 50,2% de Silvio Berlusconi na Mediaset.


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