(Por gentileza de amigos ligados à DOMUS Social fui convidado a participar num painel do 4º CHHEL
– Congresso Internacional da Habitação no Espaço Lusófono, com sessões entre o
Porto e a Covilhã e 1ª conferência no Porto a 6 de março de 2017, pelo que em próximos dias haverá reflexões
de suporte a essa intervenção …)
O convite integrou-me numa mesa redonda coordenada pelo jornalista Valdemar
Cruz do Expresso, com o título A Cidade Habitada
e a Cidade por Habitar, sob o modelo de um economista (este vosso amigo),
um arquiteto (Pedro Ramalho, com o qual tenho uma dívida de gratidão pela
autoria de uma mesa que me serve de inspiração nos meus retiros de Seixas) e um
engenheiro (Vítor Abrantes).
A questão da Cidade tem um percurso errático de diálogo comigo, aprecio o
tema, mas nunca consigo dedicar-lhe o tempo que merecia, sendo despertado, de
tempos em tempos, por convites desta natureza, que são algo amargos, pois
equivalem a um encontro afetivo fortuito, que se repete apenas em função da aleatoriedade
de tempos e causas que não conseguimos controlar.
Aproveito regra geral estas oportunidades para me convencer que vale mais a
pena mergulhar em escritos que o tempo não apagou do que em produtos de
fancaria aparentemente moderna e sofisticada. Numa espécie de introspeção profunda,
trata-se de um expediente para me desculpar de não ter acompanhado como devia a
literatura e a investigação que não param e evoluem, nem sempre na boa direção,
a um ritmo estonteante.
Desta vez não fugi à tendência e eis-me regressado a uma obra que considero
um monumento sempre revisitável da análise urbana. A obra é “The Death and Life of Great American Cities”
(1961) da jornalista e economista urbana Jane Jacobs, que bem me auxiliou nas
três visitas que fiz aos Estados Unidos com a família e uns amigos.
Voltarei a esta questão, mas deixo-vos hoje com uma bela passagem inicial:
“As Cidades constituem um
imenso laboratório de experimentação e de erro, falhanços e sucesso, na construção
da cidade e no desenho da cidade. Este é o laboratório no qual a escola do planeamento
da cidade deveria ter aprendido e concebido e testado as suas teorias. Em vez
disso, os praticantes e os professores desta disciplina (se assim podem ser
chamados) ignoraram o estudo do sucesso e do falhanço na vida real, não foram
atraídos pela curiosidade de conhecer as razões de sucessos inesperados e são
antes guiados por princípios derivados do comportamento e aparência de cidadezinhas,
subúrbios, sanatórios de tuberculose, feiras e imaginárias cidades de sonhos –
de tudo menos das próprias cidades.”
Como é que uma mulher de aparência tão vulnerável consegue escrever coisas com
esta força, há, pasme-se, 56 anos.
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