segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

A CIDADE HABITADA




(Por gentileza de amigos ligados à DOMUS Social fui convidado a participar num painel do 4º CHHEL – Congresso Internacional da Habitação no Espaço Lusófono, com sessões entre o Porto e a Covilhã e 1ª conferência no Porto a 6 de março de 2017, pelo que em próximos dias haverá reflexões de suporte a essa intervenção …)

O convite integrou-me numa mesa redonda coordenada pelo jornalista Valdemar Cruz do Expresso, com o título A Cidade Habitada e a Cidade por Habitar, sob o modelo de um economista (este vosso amigo), um arquiteto (Pedro Ramalho, com o qual tenho uma dívida de gratidão pela autoria de uma mesa que me serve de inspiração nos meus retiros de Seixas) e um engenheiro (Vítor Abrantes).

A questão da Cidade tem um percurso errático de diálogo comigo, aprecio o tema, mas nunca consigo dedicar-lhe o tempo que merecia, sendo despertado, de tempos em tempos, por convites desta natureza, que são algo amargos, pois equivalem a um encontro afetivo fortuito, que se repete apenas em função da aleatoriedade de tempos e causas que não conseguimos controlar.

Aproveito regra geral estas oportunidades para me convencer que vale mais a pena mergulhar em escritos que o tempo não apagou do que em produtos de fancaria aparentemente moderna e sofisticada. Numa espécie de introspeção profunda, trata-se de um expediente para me desculpar de não ter acompanhado como devia a literatura e a investigação que não param e evoluem, nem sempre na boa direção, a um ritmo estonteante.

Desta vez não fugi à tendência e eis-me regressado a uma obra que considero um monumento sempre revisitável da análise urbana. A obra é “The Death and Life of Great American Cities” (1961) da jornalista e economista urbana Jane Jacobs, que bem me auxiliou nas três visitas que fiz aos Estados Unidos com a família e uns amigos.

Voltarei a esta questão, mas deixo-vos hoje com uma bela passagem inicial:

“As Cidades constituem um imenso laboratório de experimentação e de erro, falhanços e sucesso, na construção da cidade e no desenho da cidade. Este é o laboratório no qual a escola do planeamento da cidade deveria ter aprendido e concebido e testado as suas teorias. Em vez disso, os praticantes e os professores desta disciplina (se assim podem ser chamados) ignoraram o estudo do sucesso e do falhanço na vida real, não foram atraídos pela curiosidade de conhecer as razões de sucessos inesperados e são antes guiados por princípios derivados do comportamento e aparência de cidadezinhas, subúrbios, sanatórios de tuberculose, feiras e imaginárias cidades de sonhos – de tudo menos das próprias cidades.”

Como é que uma mulher de aparência tão vulnerável consegue escrever coisas com esta força, há, pasme-se, 56 anos.

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