(A recente publicação
pela OCDE dos Main Science and Technology Indicators permite seguir o comportamento
da economia portuguesa nos últimos 14 anos nesta matéria, e o que ressalta dos resultados não é tão
promissor como parecia há alguns anos)
É conhecido que Portugal gozou de algum estado de graça nos radares da ciência
e tecnologia seja europeus, seja da OCDE. A despesa bruta de I&D em
percentagem do PIB começou no início da década de 2000, a densidade do número
de investigadores face à força de trabalho também aumentou, as publicações científicas
dispararam e, após alguma inércia, a repartição entre I&D financiada em
termos públicos e I&D financiada pelas empresas começou também a dar sinais
de que podia finalmente ir abandonando o primado da I&D pública.
É conhecido que parte desse estado de graça se deve à persistência do
saudoso Mariano Gago, o que é interessante é que o próprio pai da carta de
alforria da ciência como política pública só tardiamente reconheceu a importância
da translação do conhecimento para o meio empresarial.
Ora, agora que emerge informação que cobre todo o período negro da austeridade
a todo o preço e que os anos de 2014 e 2015 surgem já representados nos dados OCDE,
é interessante avaliar se o tal estado de graça permanece. E desta vez há mixed feelings.
Os dados da despesa bruta de I&D em percentagem do PIB têm o seu apogeu
em 2009, mas a partir daí parece desenhar-se um ocaso desse esforço. Bom, pode eventualmente
dizer-se que houve problemas de medida das despesas de I&D efetivamente
contabilizadas com rigor enquanto tal e que parte do surto em direção ao apogeu
de 2009 se deve a melhorias de medida. Admito que possa ter havido correções
desse tipo. Mas o comportamento a partir de 2009 é mais de ocaso do que de
correção de ponto de situação. Entretanto, o gráfico abaixo que descreve a
evolução do número de investigadores por milhar de indivíduos inscritos como
força de trabalho permite concluir que em termos de recursos humanos o esforço prosseguiu
e que não houve propriamente ocaso. Mas atenção que esse crescimento dos recursos
humanos em atividades de I&D pode refletir quebra de produtividade da
investigação. Já o referi neste blogue em post
anterior. Para descobrir uma nova ideia há sinais de que é necessário um maior
esforço em termos de investimento humano.
Dirão os mais otimistas que não é propriamente um ocaso mas um ajustamento
estrutural positivo. Afinal o peso da I&D financiada pelo governo diminuiu
e, em contrapartida, aumentou a I&D financiada pela indústria. O sistema de
inovação em Portugal estaria a alinhar finalmente pelas tendências mundiais e
europeias.
Porém, quando colocamos no mesmo gráfico, em termos de peso no PIB, a
despesa bruta de I&D e a I&D financiada em termos empresariais, vemos
que também esta acusou uma perda de esforço em termos de afetação de recursos. Uma
simples imagem permite esclarecer os “mixed
feelings”: o ajustamento estrutural (positivo) favorável à I&D
empresarial necessitaria de um maior esforço de investimento, o que não está a
acontecer.
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