terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

O EFEITO GUARDIOLA




(Acho que nunca saberemos se, no futebol ou outro domínio qualquer, a valia da estratégia pode ser equacionada sem os protagonistas que a concretizam, e o Manchester City – Mónaco de há pouco mais uma vez mostrou que assim é …)

Por razões circunstanciais sem significado que não seja a ausência de jogos que valha a pena discutir para além da linguagem do futebol tout court, não tenho visto ultimamente matéria que justifique grande prosápia ou poder de análise. Retirando a força coletiva do Dortmund que deu um banho de bola demolidor ao meu SLB, e que os deuses quiseram que o Ederson mantivesse as redes invioladas, nada me tem impressionado. O Manchester City – Mónaco de hoje levou-me a romper com esse afastamento.

O chamado modelo ou efeito Guardiola que é tão estudado não só no âmbito restrito do futebol mas noutras disciplinas que tenham que ver com liderança e organização de grupos e coletivos jamais poderá ser desligado do Barça do seu tempo e dos inúmeros protagonistas que animavam aquele coletivo demolidor. A sua passagem pelo Bayern de Munique não foi coisa que um velho Jupp Heynckes não tenha conseguido e que talvez Ancelotti não esteja agora a conseguir. Mas é claro que não pode ficar-se indiferente ao efeito Guardiola no futebol de hoje, mesmo que me pareça exagerada a afirmação de Luís Freitas Lobo que ele revolucionou o debate do futebol.

Pois hoje, Guardiola começou o jogo de peito aberto, ignorando que do lado de lá havia um portuga hábil, Leonardo Jardim, o anti-espetáculo, mas que com o veludo e intuição dos pés e cabeça de um Bernardo Silva e três ou quatro jogadores verdadeiras forças da natureza e motores de arranque, demoliu durante algum tempo a inventiva atacante de Guardiola. Praticamente em simultâneo, a decisão de Guardiola recompor a equipa tornando-a mais tradicional e coesa na defesa e a falta de forças tardiamente apercebida por Jardim, misturada com um falhanço incrível na grande penalidade de Falcão que daria o 4-3 para o Mónaco, arrumou com as pretensões do portuga e salvou o mito de Guardiola. A angústia do avançado centro perante a penalidade foi tão evidente em Radamel que cheguei a antecipar o falhanço da penalidade.

Os resultados de Guardiola na Liga Inglesa vão testar se o modelo Guardiola resiste às diferentes culturas do futebol e se conseguirá impor-se qualquer que seja a filosofia e a cultura de jogo que predominem na Liga em que prestar serviço. Eu sei que o Manchester City não é propriamente um exemplo de domínio do nativo sobre o global. Mas o efeito cultural está na dinâmica da própria liga e é a dinâmica semanal desta que constitui o laboratório para aplicação e teste dos diferentes modelos.

Continuo com dúvidas que o modelo seja transversal a tudo isso e não seja protagonistas-dependente. Posso enganar-me e foi pena que um portuga hábil não tenha conseguido hoje desmontar esse mito ou realidade.

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