(Acho que nunca
saberemos se, no futebol ou outro domínio qualquer, a valia da estratégia pode ser
equacionada sem os protagonistas que a concretizam, e o Manchester City – Mónaco de há pouco
mais uma vez mostrou que assim é …)
Por razões circunstanciais sem significado que não seja a ausência de jogos
que valha a pena discutir para além da linguagem do futebol tout court, não tenho visto ultimamente
matéria que justifique grande prosápia ou poder de análise. Retirando a força
coletiva do Dortmund que deu um banho de bola demolidor ao meu SLB, e que os
deuses quiseram que o Ederson mantivesse as redes invioladas, nada me tem
impressionado. O Manchester City – Mónaco de hoje levou-me a romper com esse afastamento.
O chamado modelo ou efeito Guardiola que é tão estudado não só no âmbito
restrito do futebol mas noutras disciplinas que tenham que ver com liderança e organização
de grupos e coletivos jamais poderá ser desligado do Barça do seu tempo e dos
inúmeros protagonistas que animavam aquele coletivo demolidor. A sua passagem
pelo Bayern de Munique não foi coisa que um velho Jupp Heynckes não tenha
conseguido e que talvez Ancelotti não esteja agora a conseguir. Mas é claro que
não pode ficar-se indiferente ao efeito Guardiola no futebol de hoje, mesmo que
me pareça exagerada a afirmação de Luís Freitas Lobo que ele revolucionou o debate
do futebol.
Pois hoje, Guardiola começou o jogo de peito aberto, ignorando que do lado
de lá havia um portuga hábil, Leonardo Jardim, o anti-espetáculo, mas que com o
veludo e intuição dos pés e cabeça de um Bernardo Silva e três ou quatro
jogadores verdadeiras forças da natureza e motores de arranque, demoliu durante
algum tempo a inventiva atacante de Guardiola. Praticamente em simultâneo, a
decisão de Guardiola recompor a equipa tornando-a mais tradicional e coesa na
defesa e a falta de forças tardiamente apercebida por Jardim, misturada com um
falhanço incrível na grande penalidade de Falcão que daria o 4-3 para o Mónaco,
arrumou com as pretensões do portuga e salvou o mito de Guardiola. A angústia
do avançado centro perante a penalidade foi tão evidente em Radamel que cheguei
a antecipar o falhanço da penalidade.
Os resultados de Guardiola na Liga Inglesa vão testar se o modelo Guardiola
resiste às diferentes culturas do futebol e se conseguirá impor-se qualquer que
seja a filosofia e a cultura de jogo que predominem na Liga em que prestar
serviço. Eu sei que o Manchester City não é propriamente um exemplo de domínio
do nativo sobre o global. Mas o efeito cultural está na dinâmica da própria liga
e é a dinâmica semanal desta que constitui o laboratório para aplicação e teste
dos diferentes modelos.
Continuo com dúvidas que o modelo seja transversal a tudo isso e não seja protagonistas-dependente.
Posso enganar-me e foi pena que um portuga hábil não tenha conseguido hoje desmontar
esse mito ou realidade.
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