quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

A CIDADE HABITADA (III)




(A conclusão do puzzle está mais complicada do que parecia, eis mais uma dimensão de análise que fui buscar aos anos 90…)

A especialização do conhecimento e a segmentação das práticas políticas e profissionais têm conduzido a uma estratificação de leituras e perspetivas sobre a Cidade que em si própria não é negativa, mas cujos danos se avolumam por não estar disponível qualquer integração dessas múltiplas leituras e perspetivas.
Por mais interdisciplinares que se apresentem algumas análises ou estudos sobre a Cidade, a autonomia de cada disciplina tornou-se um ponto de honra para os seus utilizadores, confundindo-se integração e disciplinaridade com o número e diversidade de leituras. Nos tempos que correm, o “trespassing” que o patrono deste blogue Albert O. Hirschman tanto praticou parece não estar na moda.

Fica a advertência:

A Cidade é complexa, plural, variável, rica nas suas diferenças, frequentemente no seu estado potencial, de virtualidades. Ela deve ser a imagem da permanente e fecunda liberdade. Ter uma visão unificada e inacabada do homem, deixando de o decompor em funções elementares: os habitantes não são alternativamente utentes de transportes coletivos, consumidores de hipers, compradores de cultura, praticantes de jogging ao domingo; não se decompõem em tranches, como se de fusos horários se tratasse. Isto significa também_ ter a obsessão de basear a libertdade na pluralidade dos homens”.

Bernard Préel, La Ville à Venir, Décartes & Cie., 1994

Esta pluralidade faz-se de relações de proximidade e de conexões com o longínquo, que o digital está decisivamente a potenciar. Mas esse confronto entre a proximidade e a longinquidade faz parte da pluralidade de que fala Préel.

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