sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

LULA PENA




(Sim, é difícil associar Lula Pena a algo mais do que o “Ay abrazame esta noche …” de Pasion porque essa canção é tão intensa que se me gravou na memória para sempre, mas o recentíssimo Archivo Pittoresco é um disco belíssimo, excelente para uma sexta-feira à noite)

A música é, para mim, mistério. Cada disco, cada peça, tem uma história que gosto de desvendar, progressivamente, à medida que a vou reproduzindo e vou juntando interpretações, elementos de contexto, revelações.


 (Buddhy para o Público)

Lula Pena é para mim um mistério e isso basta-me para a ouvir com prazer. Nascida praticamente com o 25 de abril, não podemos deixar de nos interrogar por que razão uma voz com esta força e sensualidade se limitara até a este princípio de janeiro a dois álbuns (Phados e Troubador) espaçados de mais de 10 anos. É claro que a tensão de canção como Pasión (Rodrigo Leão) bastaria para a fixarmos na nossa memória e assim é.

Archivo Pittoresco é uma incursão por sonoridades que estão bem em linha com a aura de mistério. A relação intrínseca com o violão está lá, intacta, e pressente-se que a procura das novas sonoridades que não passam apenas pela música mas também pela linguagem (a incursão pelo grego é magnífica) justificou bem o espaço de sete anos em relação ao Troubadour. Vítor Belenciano, que já tinha escrito em 2010 um belo artigo sobre esse álbum, associa essa invenção de sonoridades ao tempo fora Cidade em que Lula vive e ensaia, como se a artista precisasse de um tempo nos antípodas da agitação e efemeridade dos dias de hoje para procurar as novas sonoridades.

O disco-artefacto da editora belga Crammed poupa nas palavras e é um prodígio de imagem. O Financial Times de 20 de janeiro passado dedica-lhe o interesse em torno do modo como Lula cruza as sonoridades da Sardenha, com a força do grego e uma canção de combate do Brasil contemporâneo e revela até que ponto Lula está na world music como peixe na água.

Gosto sobretudo do embalo de Ausencia a faixa 6. Uma boa forma de entrar para fim de semana.

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