As boas gentes
do Bombarral mereciam outro Nanito. Sempre há cada personagem na política
portuguesa, provavelmente não seremos exceção como país num campo mais vasto de
empobrecimento de personagens. A história das referências curriculares do artista,
metendo Berkeley e o dito não fez por menos, e a própria evolução da sua
carreira académica são preciosidades de um “kitsch”
político que se vai desvendando aqui e ali, e tantos mais não haverá protegidos
à sombra das bananeiras dos aparelhos partidários. Já conhecia os que namoravam
sem elas saberem, mas visitar uma Universidade sem a mesma saber é obra de engenhosidade
suprema. Mas um personagem deste calibre não sobreviveria sem um ecossistema
favorável, que vai desde a universidade privada que o acolitou até ao Mestre de
Coimbra, catedrático em direito fiscal, que por acaso, só por acaso também do
PSD.
Do ponto de
vista das batalhas antecipadas para Rui Rio, não sei sinceramente o que pensar
e o que dizer. A construção de uma alternativa no interior do PSD começa a revelar
um deserto aterrador de nomes e de personalidades, tamanha evidência surge à
luz do dia, a cada cavadela surge uma minhoca mais comprometedora. Será isto o
partido que queria trazer de novo para a política personalidades marcantes da
nossa vida pública e dos meios sócioprofissionais? Será o próprio Rio tão ingénuo
ao ponto de acreditar que a base de recrutamento do partido não se tinha degradado?
Terá o novo líder que engendrar um novo boletim de vacinas, garantindo-lhe que
os seus apoiantes mais diretos estão libertos e imunes da tentação da pequena
benesse?
Perante toda
esta trapalhada e degenerescência de padrões de decência política, uma passadeira
vermelha tem sido estendida aos anteriormente organizados em torno de
Passos Coelho. Mas o estranho é que tais personalidades se recusam por agora a
percorrer tal passadeira. Entregam por isso essa tarefa de cozer em lume brando
o novo líder a uma imprensa ávida destes pequenos deslizes comprometedores de
toda uma imagem. E há uma que me irrita profundamente e estou a marimbar-me
para os problemas do PSD. É que governar o país não é governar o Porto. Este
chiste tem sido trabalhado até às suas últimas consequências.
Com toda
esta situação de arranque em câmara lenta e sinuosa da alternativa PSD, o PS
terá tempo e condições para marinar o último orçamento da legislatura e até
poderá dar-se provavelmente ao luxo de resistir a possíveis eleitoralismos.
De tudo
isto, fica para mim uma interrogação inquietante: serão as “barreirices” o novo normal da política? Será
que todos os políticos potencialmente expostos a mediatização terão de passar
por uma espécie de maquineta de controlo de metais, neste caso, de deteção de
coisas feias ou menos claras do ponto de vista da sua vida pública?
Com todo
este contexto, a nossa rainha da dança da chuva, Assunção Cristas, arrisca-se a
parecer uma grande estadista.
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