(Breve reflexão sobre o desaparecimento de Manuel Reis, uma
personalidade que não tive o prazer de conhecer. Pretexto para
divagar sobre sociologias lisboetas, contrapondo-as às do Porto.)
Embora algumas,
pequenas e fugidias, experiências sobre a noite lisboeta já se tenham perdido nas
irreversíveis perdas de memória ditadas pela usura do tempo, interessou-me a
leitura dos múltiplos testemunhos que surgiram nos jornais sobre o desaparecimento
de Manuel Reis, proprietário das “instituições” lisboetas da Frágil e do Lux Frágil.
Nunca privei ou conheci a personalidade em causa, mas a generalidade dos testemunhos
que li apontam para um agregador nato e os mais entusiastas falaram mesmo sobre
o “inventor” da noite de Lisboa, 'líder', 'mito', 'Papa', 'Jedi’, ‘Soldado da
luz’. Esta matéria interessa-me profundamente, pois aponta para o que poderíamos
chamar de sociologia das atmosferas urbanas, aquilo que está sempre para além
das infraestruturas, da arquitetura do espaço público, da por vezes desesperada
tentativa de influenciar e marcar a vida urbana, a sua dinâmica e animação. Regra
geral, essa sociologia das atmosferas urbanas vai sempre dar a personalidades e
vidas como a de Manuel Reis como posso depreender dos testemunhos que tive oportunidade
de ler.
Mas o que
mais saltou à minha curiosidade foi a extrema abrangência dos testemunhos que registei.
Reunir no mesmo registo testemunhos como os de Miguel Esteves Cardoso, Augusto
Manuel Seabra, Jorge Barreto Xavier, Ana Salazar. João Pinharanda, Joana
Vasconcelos, Pedro Marques Lopes, Fernanda Câncio, Ministro da Cultura, Câmara Municipal
de Lisboa significa uma solidariedade convergente de grande abrangência.
Finalmente,
dei comigo a pensar com os meus botões e a interrogar-me: haverá no Porto condições
para uma convergência tão abrangente? Onde estarão os “Manuel Reis” das atmosferas
do Porto?
Que
respondam os que ainda usufruem desse privilégio de viver tais atmosferas,
sobretudo as da noite!
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