(O impasse catalão está para durar. A decisão de Rajoy de
repousar toda a pretensa solução do problema na perspetiva judicial, se bem que
tenha matéria suficiente de irresponsabilidade independentista para fazer a sua
via, equivale na prática a um impasse de bloqueio total da desejada normalização
catalã. O não cruzamento da abordagem judicial com uma perspetiva
política coloca o problema catalão em rota de descomando e de incerteza total)
Fiz parte do
grupo de pessoas em Portugal que não se deixou enganar pelo independentismo
catalão e sempre aqui denunciei a irresponsabilidade independentista, não pela
ideia em si, mas sobretudo pela perspetiva manipuladora do sentimento independentista
que os principais representantes do pós destruição da CiU de Pujol sempre
evidenciaram. Num processo desta natureza, quando se acionam as alavancas de um
processo anticonstitucional é para levar até ao fim e sobretudo não esperar que
o poder estabelecido (ainda por cima o do PP, tão sensível aos símbolos e
defesas do espanholismo mais profundo, admitisse de bom grado premiar a destruição
dos princípios constitucionais e da unidade da Espanha.
Esta minha
posição não significa ignorar dois aspetos fundamentais:
·
O sentimento independentista existe, está vivo,
reproduz-se geracionalmente, mesmo que possamos duvidar dos fundamentos históricos
que alguns invocam para o fundamentar;
·
Se não quisermos que o assunto desemboque em
violência e gere fenómenos para-militares do tipo ETA ou suas transformações, o
problema é essencialmente político, mesmo que os independentistas de hoje ao
ultrapassarem os limites, mesmo que flexíveis da lei, se tenham posto a jeito
para a via judicial.
Assim sendo,
quando o PP coloca nas mãos de um juiz, Llarena de sua graça, a condução de
todo o processo, lavando daí as suas mãos como um Pilatos dos tempos modernos, é
de esperar claro está o cumprimento da lei e, com isso, o bloqueio político de todo
o processo. A condução do processo judicial teria inevitavelmente que encontrar
violações da legalidade na condução do processo que levou ao referendo e
posteriormente ao acionamento do artigo 155º da Constituição. Temos por isso
neste momento membros da Esquerda Republicana (o seu líder Oriol Junqueras) e das
associações cívicas que dinamizaram o processo e o juiz Llarena decidiu estender
essa prisão a outros elementos, conselheiros e não só, atingindo também o partido
de Puigdemont.
Antecipando
tal decisão, a decisão de tentar uma investidura de Turull também com ordem de
detenção foi patética e nem sequer nas condições excecionais que ela revestiu
foi possível reunir o número de votos adequados para conseguir a referida
investidura. O independentismo sai por baixo mas também todo o regime democrático
espanhol. E, agora que a vice da Esquerda Republicana Marta Rovira decidiu não
prestar declarações no Supremo Tribunal e fugir para a Suiça, abre-se a velha
questão de saber se estamos perante exilados ou simplesmente fugitivos à lei. A
rotura dos independentistas mais radicais da CUP com todo o processo está declarada
e neste momento nem sequer uma maioria política independentista capaz de
assegurar uma investidura. A degradação irreversível da situação política catalã
está consumada e não se entende o que é que a Espanha pode retirar de positivo
deste bloqueio político. O PP desapareceu politicamente da Catalunha isso já o
sabíamos e tínhamos antecipado. Mas a situação catalã arrisca-se a provocar uma
reorganização do espectro político em Espanha de proporções não antecipáveis. Entretanto,
o juiz Llarena conseguirá as suas condenações e até já conseguiu equiparar a
manipulação da secessão ao golpe de 23 de fevereiro de 1981 do inenarrável coronel
Tejero que sequestrou o Congresso. Mas que direção mais estranha em que toda a
questão catalã está a evoluir?
A combinação
explosiva da irresponsabilidade independentista e da falta de arcaboiço político
tem tudo para ser trágica.
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